Tropa de Elite, de José Padilha, assume o ponto de vista de um capitão do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), corporação de elite da polícia carioca, e acompanha a transformação de dois bons recrutas (Caio Junqueira e André Ramiro), leais e corretos, em assassinos. Tendo como símbolo uma caveira cravejada por uma faca e duas pistolas, o BOPE tem a fama de ser cruel, preciso e mortal.

Uma cansativa narração em off, que percorre inacreditavelmente toda a película, traz à tona o estado de stress do capitão Nascimento, vivido pelo ator Wagner Moura.

E, por mais que Wagner seja assassino e torturador, ele é o mocinho da trama. Na escalação de Wagner, ator querido e conhecido do grande público, percebe-se o desejo do diretor de que o espectador compreenda os motivos que levam o Capitão Nascimento a ser o que é.

E fica fácil simpatizar com o Capitão diante da exposição de seu drama particular. Ele está preocupado com a forma com que o “trabalho” interfere no próprio casamento. Após anos de torturas e diversas mortes nas costas, o Capitão quer deixar a corporação e cuidar do filho que está para nascer. Numa cena, em plena ação no morro, ele suspende a retirada dos corpos ao anunciar “Vamos carregar apenas um, que o meu filho nasceu”, o BOPE e o espectador comemoram.

A contradição em si pode até parecer interessante, complexifica a história e o personagem, mas o que o filme quer dizer é que o personagem vivido por Moura é um cara bacana, ele não é ruim por natureza, mas foi corrompido, foi levado a fazer o que faz: matar e torturar. Tropa de Elite sugere a absolvição do Capitão Nascimento e de pequena parte da corporação.

Se o Capitão Nascimento é o mocinho, os vilões do filme, na verdade, são os policiais que se aproveitam financeiramente da guerra e estabelecem alianças com os traficantes. Desses, não teremos condições de conhecer seus dramas pessoais, se roubam e negociam porque a escola do filho está atrasada, se um amigo está doente, se estão tristes e estressados… se possuem alguma justificativa “razoável” para fazer o que fazem.

Tropa de Elite atira, ainda, para o lado da classe média, apontada como conivente, seja pela forma ingênua como se comporta (representada pelos jovens de “bom coração” que trabalham em ONG’s) e mesmo oportunista (os que consomem e vendem drogas, alimentando o tráfico). O longa faz pesada critica à sociedade, que sai da posição de vitima para agente de toda essa situação.

Mas, o que mais chama a atenção no longa, no entanto, é a violência. E aqui fica claro que o que orienta Tropa de Elite não é o humanismo ou o entendimento de relações complexas, mas o gosto pelas cenas de morte e tortura física, aos montes, e que revelam detalhes grotescos. O sangue espirra na câmera, é preciso ter estômago!

Fica claro, que a partir de Cidade de Deus, o cinema brasileiro perdeu completamente o pudor em retratar a violência cotidiana, experimentada por milhares de cidadãos nas principais capitais do Brasil.

Como no filme de Fernando Meireles, aliás, cor e luz saturadas e montagem frenética, mesmo que num grau menor, em busca de certo realismo, também dão “brilho” à Tropa de Elite.

No final das contas, um filme de ação (na adrenalina da trilha sonora), “entretenimento” tão desagradável quanto perigoso, pois acostuma o olhar do espectador diante de tamanha brutalidade, numa espécie de elogio ao derramamento de sangue e à tortura.