Por Rafael Carvalho
Eu que acho Billy Elliot um filme adorável e As Horas sensacional em sua proposta carregada de melancolia e dor, vi o talento de Stephen Daldry sendo minimizado no forçado O Leitor, mas principalmente nesse seu mais novo trabalho. Choroso ao extremo, exagerado, gritante e apelativo, com aquele tom misto de tema socialmente importante e história emotiva, Tão Forte e Tão Perto é uma nulidade disfarçada de filme sério com tema nobre.
O início do longa até que prometia uma abordagem que seria bastante bem-vinda: a história de um garoto que, para tapear o luto pelo pai morto no atentado às Torres Gêmeas, inventa em sua mente uma aventura mirabolante envolvendo a chave de um lugar secreto que precisa ser descoberto seguindo as pistas deixadas por seu pai. Esse ar de aventura descabida, tão pertinente à imaginação infantil, parecia um prato cheio para se falar de assunto tão espinho por um viés diferente e até mais sensível. E o início do filme acrescenta muito vigor a essa quase “proposta”.
Mas tudo isso desmorona quando o filme resolve emocionar a todo custo e dar conta de um certo sentimento de compaixão a um povo marcado pelo terrorismo que tão barbaramente atingiu aquela sociedade aparentemente blindada. Seria, portanto, um filme de alma essencialmente norte-americana (feito por um diretor inglês), que tenta alcançar a universalidade por seu apelo emocional. E o que havia de lúdico em seu início, se tornou a história do garotinho que, buscando encontrar o lugar a ser aberto pela chave misteriosa deixada pelo pai, vai lidando com a dor da perda da forma mais chorosa possível.
É pra isso que servem, narrativamente, os personagens adultos que cruzam o caminho de Oskar (Thomas Horn). O mais prejudicado deles é Max von Sydow, interpretando um estranho senhor que não fala (o trauma do passado que o fez ficar mudo será logo apresentado) e que se comunica através de bilhetes. A composição von Sydow para esse homem misterioso é ótima (gratamente indicada ao Oscar), toda expressão corporal de um ator experiente. Pena que esteja a serviço de um personagem que só está ali para soar estranho e exótico, não convencendo muitos em suas razões para ajudar o garoto e muito menos quando se questiona suas origens.
Da mesma forma, outros personagens entram no enredo como suporte para a busca de Oskar. Viola Davis, que já começa no filme chorando sem que se saiba por que (motivos serão revelados no final, também aos prantos) é mais um caminho para a emoção aflorar. Não vai tardar também para que a mãe do garoto (vivida por uma surpreendente Sandra Bullock) receba sua cota de pieguice para completar o drama familiar que se institui no lar com a tragédia.
Mas há principalmente uma série de outros personagens (outras pequenas histórias) que surgem a partir da trajetória de Oskar em busca da verdade deixada pelo pai, todos ligados de alguma forma ao sentimento de compaixão pelos que sofreram diretamente com os atentados terroristas. E é como se o filme jogasse baixo ao apelar para o sentimento do público em prol desse drama difícil ignorar, porque é ferida forte na sociedade norte-americana, principalmente ao envolver um garotinho órfão e inteligente.
Daldry filma tudo num ritmo ágil, revelando as manias e particularidades de Oskar (como o irritante chacoalhar de um pandeiro que, segundo o personagem, o deixa mais calmo) em busca de uma simpatia para com esse garoto e para sua busca ingênua. Essa candura em excesso acaba virando contra o próprio filme, com tanto choro tentando ser metido goela abaixo do espectador. Até a bela música de Alexandre Desplat, com poucas doses de pieguices, é sabotada pelos momentos de comiseração. Enfim, um filme que faz muito barulho por tão pouco.