Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Tim Burton (Edward Mãos de Tesoura, a Noiva Cadáver) opera pelos extremos. Seus filmes são estranhos e convencionais, ao mesmo tempo. Seus personagens são bizarros, mas imersos em narrativas cujalinearidade facilmente seduz o grande público.

Os heróis dos filmes de Tim Burton não costumam seguir o padrão do bom mocismo (Batman e O Estranho Mundo de Jack, por exemplo). O bom e o mau, que em princípio parecem irremediavelmente separados, se misturam nas películas do cineasta, provocando certa confusão saudável em quem assiste.

Em Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, que trata sobretudo sobre a vingança, o diretor busca, mais uma vez, evidenciar as contradições humanas, ao sabor de uma atmosfera lúgubre, embora lúdica.

Na película, os cenários possuem o poder de nos transportar, desde o primeiro plano, a uma Londres tão triste quanto fantasiosa. As cores artificiais não imitam a vida, mas a recriam. O ambiente, os figurinos, a maquiagem, o ritmo do filme facilitam a entrada do espectador numa história bizarra.

Em Sweeney Todd, Benjamin Barker (Jonnhy Depp) é apresentado como um jovem puro e feliz. Casado com uma bela mulher, Baker atrai a atenção e inveja de um importante juiz de Londres. Indignado com a felicidade alheia, o juiz inventa crimes e deporta o jovem Benjamin para a Austrália. Mais de uma década depois, Benjamin retorna a Londres com sede inesgotável de vingança. O jovem está completamente transtornado e transformado. Amargo, Baker não se volta apenas contra o juiz, mas contra toda a humanidade.

Se num primeiro momento, Baker é apresentado como o mocinho e o juiz como o vilão, aos poucos as peças se embaralham. Baker distribuiu navalhadas a esmo, contra todos que pode. Nem mesmo um possível novo amor ou a idéia de que sua filha esteja viva atenua ódio brutal.

Um detalhe importante: todo esse clima de terror se dá num típico musical. O tom das canções é o mesmo de A Noviça Rebelde, por exemplo, o que confere uma estranheza ainda maior ao filme. Sweeney Todd é uma bizarra ópera pop.

E assim, num filme de montagem ágil, canção após canção, navalhada após navalhada, o espectador fica desconcertado: deve mesmo torcer para que o mocinho faça justiça com as próprias mãos? Deve rir ou chorar em meio a tanto sangue grosseiramente derramado?

Num final nada óbvio em princípio, embora um tanto moralizante (a vingança não compensa), Burton constrói mais um filme incomum em sua carreira. Notável que assim ele proceda trabalhando em grandes estúdios.