Soul Kitchen

Em Soul Kitchen (Soul Kitchen, 2009) o cineasta alemão Fatih Akin evoca uma parte de Hamburgo, Alemanha, que já não serve mais aos objetivos para qual foi criada. Estamos em uma área industrial abandonada, cuja modernidade ultrapassada aponta para uma disputa. De um lado os românticos, que pretendem preservar a estrutura do local na função de um restaurante. Do outro, os capitalistas especulativos, que querem por tudo abaixo e começar a vida do zero.

Há um lugar comum danado nesse antagonismo, mas isso não chega a entornar o leite. Mas, o que me incomoda em Soul Kitchen é a histeria: todos os personagens gritam o tempo todo. No quesito “gritaria”, o filme alemão me lembrou Se Eu Fosse Você. Trata-se de uma convenção das mais chatas: numa comédia, os personagens tem que ser histéricos. Parece que isso faz o povo rir.

Soul Kitchen é uma comédia de erros, onde tudo de ruim vai acontecer ao protagonista, espécie de anti-herói marginal, sem beleza nem atrativos especiais. O jovem dono do restaurante perde a namorada, é um péssimo empresário, fica com dor na coluna e vê toda a sua vida ir água abaixo. A cada novo tropeço, um grito histérico.

O melhor do filme, sem dúvida, são os cenários. Os velhos galpões, os apartamentos abandonados, o metrô suspenso, enfim, a cidade industrial velha. Hamburgo é uma cidade portuária encantadora. As regiões esquecidas aparecem como pontos luminosos e impregnados de histórias. Nesses momentos, sentimos a mão de um diretor talentoso. Deixa-se de lado a gritaria, entram em ação um pouco de ironia e afeto. Esses temperos, para o meu gosto, funcionam melhor!

 

Por Cláudio Marques

Visto no Espaço Unibanco de Cinema – Glauber Rocha