Por Washington dos Santos Oliveira

O documentário Rock Brasília não é apenas um filme que traça o cenário roqueiro brasiliense, suas bandas e seus integrantes, seus ensaios e shows. Mas é, sobretudo, um filme que discute o contexto político e cultural no interior do qual o rock brasiliense acontece e se expande pelo Brasil afora.

O filme narra, de forma leve e bem humorada até, as ações dos principais atores no palco roqueiro de Brasília. Assim, as confusões e desacertos, os enfrentamentos com a polícia e a família e os problemas entre os integrantes das bandas, são retratados a partir de uma perspectiva que agrada aos nossos sentidos, ao mesmo tempo em que nos faz entender melhor a linguagem e a postura dos roqueiros da capital federal.

Sendo em boa parte constituída pelos filhos da classe média brasiliense – diplomatas, políticos, professores etc – a gênese do rock de Brasília, apesar de muito dos seus artífices terem conhecido de perto o cenário punk inglês, é mais clean e bem comportado que o cenário roqueiro de São Paulo do final da década de 70, por exemplo. O filme parece querer deixar isso claro, ao mesmo tempo em que enfatiza a rebeldia intelectualizada, porém ingênua, da garotada de Brasília.

A relação dos músicos com as gravadoras e os produtores musicais, bem como da movimentação das bandas no universo das rádios e televisão, não é colocado em segundo plano pelo diretor. Ao contrário, a postura das bandas no que diz respeito à submissão e/ou postura de contestação em relação a indústria cultural é explorada com interesse no filme.

Um outro aspecto positivo é o modo como o ele é montado. O filme lança mão de registros de imagens selecionadas com bastante cuidado e de um conjunto muito bem amarrado de entrevistas com os integrantes das principais bandas, como Plebe Rude, Capital inicial e Legião Urbana. Isso sem abafar as vozes das famílias, amigos, produtores e fãs sob as paletadas ensurdecedoras das guitarras das bandas.

A ênfase das imagens e palavras em torno da Legião Urbana era mais do que esperada. É fato que a banda assumiu, graças ao gênio de Renato Russo, uma posição de destaque na cena brasiliense. O filme é atento a isso e procura legitimamente explorar o brilho do conjunto. Mas exagera. No final, ficamos com a impressão de que a banda acaba em. um certo sentido, eclipsando as demais.

Talvez esse seja um dos poucos defeitos do documentário, que dá conta do recado de forma simples e direta como deve ser o bom e velho rock’n’roll.