Boa tarde a todos os ouvintes,

sou Cláudio Marques na coluna semanal do Coisa de Cinema, aqui no Multicultura.

Saiu a lista de filmes indicados ao Oscar desse ano. Confesso a vocês que acho Oscar e Globo de Ouro festinhas bem cafonas, me fazem lembrar um programa de TV que passava todo sábado na Bandeirantes nos anos 80 chamado Almoço com as Estrelas. Eu ficava horrorizado com aquilo. Esse trauma de criança me ajuda a ficar afastado desse tipo de evento.

Não tenho nada contra filmes de grande orçamento, nada contra a indústria do cinema, até por não compactuar com essa distinção que se faz entre filmes comerciais e filmes de arte. Um filme de grande orçamento pode ser muito mais interessante que um filme de baixo orçamento. E vice-versa. Filme não é bom ou ruim a priori, pelo orçamento que possui. Não é mais ou menos artístico.

Levando-se em conta que fazer cinema é algo normalmente caro e que todo diretor sonha em chegar ao grande público, não vale a pena distinguir filmes por esse tipo de critério.

Importa dizer se os filmes são bons ou não a partir do momento em que cada espectador se identifica com o que está sendo exibido. Se tal trama ou forma como cada diretor trata cinematograficamente seus temas favorecem com que o espectador participe de uma experiência.

Isso vai depender sempre da trajetória de cada pessoa, qual a sua relação com o cinema, com as artes visuais e com a vida, de uma maneira geral.

Para mim, por exemplo, Rede Social, de David Fincher, filme considerado o melhor do ano pelos críticos que compõem o Globo de Ouro, é uma obra muito pobre, baseada em planos e contra-planos básicos, sem elaboração cinematográfica alguma e que fatalmente em breve será esquecido até mesmo por quem ama o Facebook.

O mesmo filme, Rede Social, foi indicado a muitas categorias do Oscar. Assim, como o filme de época O Discurso do Rei, de Tom Hopper. Trata-se de um filme elegante, bem realizado, com uma forte atuação de Colin Firth, mas apenas básico, um filme de época de bom gosto, como os ingleses costumam fazer. Nada que me empolgue, verdadeiramente.

Dois filmes indicados ao Oscar me agradam bastante. Fiquei surpreso ao vê-los nessa lista.

O primeiro é Toy Story 3, a animação capaz de agradar a crianças e adultos, por criar um mundo de bonecos vivos e que tratam com muito humor e beleza questões ligadas ao envelhecimento e ao abandono. Desconfio que as animações em Hollywood tem se revelado mais adultas que a maior parte dos filmes para marmanjos.

O segundo filme indicado ao Oscar que me agrada muito é Winter’s Bone, realizado com apenas 2 milhões de dólares e que fez bela carreira no circuito independente norte-americano. Aqui no Brasil, o filme foi traduzido como Inferno da Alma e deve estrear em fevereiro.

A trama se desenrola no interior dos EUA. Uma adolescente de 17 anos vive com sua mãe que está bastante doente e com seus irmãos pequenos. O pai está desaparecido, foragido da prisão. Caso ele não apareça, não retorne e dê conta de sua situação junto à policia, a família perderá o único bem que possui, a casa onde mora.

A jovem vai em busca do pai e passa a descobrir coisas muito duras que relacionam não apenas seu pai, mas outras pessoas importantes daquela pacata cidade do interior dos Estados Unidos.

A diretora Debra Granik consegue construir uma atmosfera claustrofóbica e muito difícil de ser respirada. Há uma sensação muito forte, durante o filme todo, que algo muito sério irá acontecer, mas o desfecho é sempre prolongado, num filme de poucas palavras e extrema tensão. Todos os planos são significativos para a história, que se desenrola muito mais em nossas cabeças do que na tela em nossa frente. O que está fora do quadro, fora do plano, faz com que nossas mentes trabalhem juntamente com os personagens.

Os atores desse filme estão incríveis, valendo cada indicação não apenas ao Oscar, mas todo o reconhecimento possível que essa pequena produção norte-americana possa vir a receber.

Enquanto estamos falando aqui sobre Oscar e Globo de Ouro, em Tiradentes, Minas Gerais, acontece um dos mais importantes festivais de cinema do pais, justamente por dar vazão às obras de novos cineastas brasileiros, de curtas e longas, que estão chegando com muita força.

Infelizmente esse ano eu não fui a Tiradentes, um lugar incrível, que respira cinema 24 horas por dia, nessa época. Mas, aos poucos, falarei mais aqui sobre os filmes brasileiros que estão surgindo.

Um forte abraço a todos