Programa Multicultura em 10.12.2010

Boa tarde a todos,

sou Cláudio Marques nessa coluna semanal do Coisa de Cinema, dentro do Multicultura.

O curta metragem Sarcófago, de Daniel Lisboa, foi escolhido, juntamente com outros dois curtas brasileiros, um dos melhores do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte. Os outros dois curtas ganhadores foram Faço de Mim o Que Quero, dos pernambucanos Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena, e Handebol, da carioca Anita da Silveira. Os três curtas foram exibidos aqui em Salvador em junho, dentro do Panorama Internacional Coisa de Cinema. Aliás, Handebol foi eleito o melhor curta do Panorama.

O festival contou com uma seleção muito boa e teve sessões concorridas.

Após uma série de menções honrosas pelos festivais afora, Sarcófago ganha seu mais importante prêmio até então e firma-se como um dos mais relevantes curtas do ano.

Trata-se de uma recriação da obra de Jayme Figura. E a obra de Jayme é sua própria vida, seu cotidiano, sua peregrinação por uma Salvador equivocada, mas vendida como paraíso aos incautos. A angustia claustrofóbica desse ser errante e escabroso, transforma-se num filme potente, cinema de verdade, pelas mãos de um diretor de verdade.

Daniel Lisboa credencia-se para vôos mais altos a partir de então. Entre seus novos projetos, o roteiro de longa-metragem Tropicaos, que deverá disputar os principais editais de fomento no ano que vem.

Quanto ao cinema comercial, não há nenhuma estréia em especial, que me parece merecer comentário nessa coluna. Aliás, o fim de ano vem com pouca força para o cinema comercial da cidade.

Dentre os filmes que estão sendo exibidos em Salvador, Rede Social, de David Fincher, chama a atenção menos por suas qualidades fílmicas, mais por tratar de um programa que, de fato, conquistou corações e mentes e ajudou a estabelecer uma relação mais afetuosa através do mundo virtual.

Poucas pessoas, hoje, não se comunicam, de alguma forma, pelo Facebook. Ao menos nas grandes cidades.

Curioso que tudo se inicia apos o personagem principal do longa, Mark Zuckerberg, principal criador do Facebook, levar literalmente um pé na bunda da namorada. Refugia-se no mundo virtual, menino acuado e que torna-se bilionário quase sem querer. Sua frustração e inabilidade faz com que o mundo virtual ajude a aproximar as pessoas, com possibilidade de acompanhamento de pensamentos, fotos e rotina de pessoas que estão distantes geograficamente. Ou mesmo próximos, mas que pouco se vêem.

A melhor sequencia do filme, sem dúvida, é a que Mark, pessoa com graves dificuldades de se relacionar com os demais ao vivo, pede para ser amigo da ex-namorada pelo Facebook. E nas cenas seguintes, ele irá atualizar a página de forma insistente para ver se a solicitação foi aceita.

Há um segundo conflito que permeia toda a história que é a oposição de dois estilos juvenis norte-americanos de ser: de um lados, os nerds, do outro os “have fun”, aqueles drogaditos que conseguem se divertir apenas se houver muita adrenalina, algum tipo de perversão e irregularidades por perto.

Sinceramente, nenhum ou dos dois ganha força suficiente para transformar Rede Social num filme potente.

No mais, trata-se de um filme verborrágico e seu diretor filma sem estilo algum, da forma mais burocrática possível.

Estabelecendo uma liga entre os dois filmes comentados hoje, Sarcófago, do baiano Daniel Lisboa, e Rede Social, do norte-americano David Fincher, finalizo a coluna de hoje com um pedido ao ouvinte. Preste mais atenção ao curta metragem brasileiro. Tem muita coisa boa sendo realizada, por uma nova geração que rapidamente vai chegar ao longa e conduzir a cinematografia brasileira a um novo patamar.

Um bom fim de semana a todos!