
Os Suspeitos
Há uma série de longas sob o tema da nova ordem implantada nos EUA e no mundo islâmico após o 11 de Setembro. Em última instância, a Guerra ao Terror é do que trata o longa do diretor Gavin Hood.
O filme é claramente pensado para o grande público, pretende ser polêmico, mas sem grandes afrontas. O Suspeito, do sul-africano Gavin Hood (de Tsotsi, Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006) possui estrutura cinematográfica fácil (planos e contra-planos óbvios durante todo o filme), apela seguidas vezes ao sentimentalismo para colocar na ordem do dia um assunto sério, grave: os EUA tornam-se cada vez mais um estado de exceção, sem prerrogativas jurídicas. Um estado terrorista.
A trama é óbvia, embora mais complexa do que o comum por alinhar diversos personagens, em dois países diferentes.
Após uma explosão no Cairo, com a morte de um agente da CIA, um suspeito, o egípcio radicado nos EUA Anwar El-Ibrahimi (Omar Metwally), é raptado em pleno aeroporto de Washington, momentos antes de desembarcar. Do lado de fora do aeroporto, Isabella Fields El-Ibrahimi (Reese Witherspoon), a esposa do sequestrado, espera em vão. Como se não bastasse o drama do desaparecimento do marido, ela carrega um filho pequeno e está grávida!
Comandado por Corrine Whitman (Meryl Streep), a CIA envia Anwar para uma prisão secreta no Egito. Lá, comandado pelo chefe de polêcia local (Ygal Naor) e supervisionado pelo agente da CIA Dougla Freeman (Jake Gyllenhaal), o suspeito sofrerá as piores torturas, até dizer, finalmente, o que sabe sobre a explosão e a suposta rede terrorista.
Em sua maioria, os personagens são maniqueístas (existem os bons e os maus), atuando em dois níveis de ‘negociação’.
Nos EUA, há a diplomacia e o duelo se dá em negociatas, nos bastidores. Os confrontos entre os bons e os maus se dão pelas palavras e jornais. Já no Egito, a barbárie se manifesta plena e oficialmente, na pancada, mesmo. O país africano é mostrado sem qualquer sofisticação, ressaltado sempre pelo caos no trânsito, pobreza das moradias e atraso nas instituições. No final das contas, os mocinhos da história serão os americanos, mesmo, ou, no máximo, o africano radicado nos EUA.
Em determinada seqência, por exemplo, supostos ‘terroristas’ egípcios preparam uma manifestação. Dizem que o mundo conhecerá a indignação do grupo e depois seus integrantes gritam coisas desconexas, sem qualquer sentido. Na seguida, a polícia local invade o local, numa ação violenta e sem controle. Bárbaros contra bárbaros.
O Suspeito pretende-se uma denúncia contra a arrogância norte-americana, mas revela-se tão ignorante quanto os vilões de sua história.
Mas, mesmo com tantas fragilidades na história, é verdade que o filme possui montagem ágil e cresce do meio para o final, sobretudo quando fica-se em dúvida da culpabilidade do correto Anwar. Se fosse um terrorista, os EUA estariam certos em interceptá-lo? Essa dúvida se transforma numa questão perigosa para o espectador e para um dos amigos da esposa de Anwar. Chefe de Gabinete de um Senador, ele ultrapassa seus limites e chega mesmo a questionar a terrível Corrine, numa das melhores cenas do filme. Mas, o jovem promissor, ao perceber que o seu emprego está em jogo, abandona a causa, mesmo sabendo ser ela correta. Talvez, ele seja o único personagem da história que não seja caricato, nem bom, nem mau.
Um filme pobre cinematograficamente e até mesmo grosseiro em sua suposta denúncia, mas que pode trazer questões relevantes para o debate político.