Por João Paulo Barreto
Nostalgia. Essa palavra define bem Os Muppets, filme que estreia nos cinemas brasileiros essa semana. Desde suas cenas iniciais, que mostram a relação afetuosa do menino Gary e seu amigo fantoche, Walter, através de vídeos domésticos que registram o crescimento do garoto e a percepção de Walter quanto à sua existência, até as imagens decadentes do que um dia foi o apogeu dos estúdios Muppets, o filme é um símbolo do que foi a verdadeira infância e uma reflexão sobre a atual.
Na verdade, a intenção desse texto não é parecer saudosista ou apresentar um preciosismo exagerado com as coisas do passado. Mas, ao entrar no cinema, eu sabia que estaria diante de um símbolo do entretenimento infantil feito seguindo intenções diferentes do que se convencionou chamar, hoje em dia, de diversão para crianças. Afinal, a essência dos Muppets é aquela da simplicidade, do encantamento de meninos e meninas a partir da graça contida em dar vida a seres inanimados, como marionetes.
Contextualizando, Os Muppets, são os famosos bonecos criados por Jim Henson em 1955, ainda sob o nome de Sam and Friends. Mestre na manipulação de bonecos, Henson conquistou as crianças daquela geração pela sutileza de suas histórias e graça de seus bonequinhos. Caco (ou Kermit), o sapo, Fozzie, Gonzo, Miss Piggy, Dr. Dentuço, Animal, estes e muitos outros são personagens que compuseram o imaginário infantil de gerações e que, agora, voltam para tentar trazer um pouco mais de pureza (creia, não é preciosismo) às crianças que vão aos cinemas. Afinal, como trazer de volta àquele universo os pequeninos dominados por playstations e pancadarias em animes?
É com alívio que digo que sim, eles conseguem. A história escrita por Jason Segel (que interpreta o adulto Gary) e por Nicholas Stoiler (roteirista de Sim, Senhor) capta bem o espírito dos antigos episódios e filmes dos Muppets, onde a música era peça fundamental e as piadas irônicas continham um timing que faziam até os adultos gargalharem. Nessa nova aventura, Walter é um fã do programa dos bonequinhos que realiza o sonho de conhecer os estúdios onde o já extinto show era produzido. Nessa visita, se entristece com a decadência do lugar e se choca (em uma hilária e, literalmente, gritante cena) com o fato de que o rico comprador do lugar (Chris Cooper, sabiamente batizado de Sr. Richman) pretende destruí-lo para cavar petróleo. Desesperado, Walter decide reunir os Muppets para levantar fundos suficientes através de um show com o intuito de comprar o lugar. E é aí que a confusão começa.
A nova geração vai ter a chance de descobrir personagens hilários como Animal (que encontra seu equivalente humano apropriado em Jack Black), aquele cuja palavra “Bateria” o faz perder o controle; cozinheiro sueco e sua paixão pelas galinhas; Miss Piggy e sua vaidade cativante; e, claro, Caco, o sapo, com seus olhinhos sorridentes. Caco é, alias, um dos destaques do cuidado da produção em manter-se fiel a arte de Henson em manipular fantoches: observe como suas expressões faciais são criadas dando a impressão proposital de serem feitas a partir da mão dentro do fantoche. É como disse antes: simplicidade ainda funciona nesse tipo de indústria.
Com um time de atores conhecidos que parecem querer fazer um tributo a um símbolo das próprias infâncias (a aparição de alguns deles é uma grata surpresa ao espectador), Os Muppets pode ser definido justamente assim: como um tributo. Um tributo a um entretenimento puro, infantil em sua raiz, sagaz em fazer piada de si mesmo (“desse jeito, você vai entregar a trama do filme”, diz um personagem em certo momento) e irônico ao extremo – vide a cena em que o quarteto de barbeiros canta Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, em uma versão engraçadíssima. E, no final, quando muitos personagens afirmam terem sentido a falta dos Muppets, fica justamente essa ideia. A de que a simplicidade deles faz falta. Não por acaso, antes do filme vemos um curta da Pixar, outro símbolo do modo simples (porém, eficaz) de se contar uma boa história infantil.