
Os Famosos e os Duendes da Morte
Vencedor do último Festival do Rio, Os Famosos e os Duendes da Morte marca a estreia de Esmir Filho na direção de longas.
Em Os Famosos…, a internet é um elemento fundamental à construção do universo do protagonista, um adolescente de 16 anos, um ser absolutamente deslocado, entediado, que não compartilha dos hábitos, gostos e tradições do lugar onde vive, uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul.
Suas referências são externas, seu maior desejo é ir ao show de Bob Dylan (que marca a trilha sonora do filme). É através da internet que ele estabelece relações, tem acesso ao mundo, define interesses, encontra espaço para publicar textos e assim expor sentimentos, motivações. Pela net, o protagonista parece encontrar sentido à sua existência. O ator Henrique Larré encarna muito bem o personagem que se auto-intitula “Tamborine Man”, nome da famosa canção de Dylan.
Esmir Filho é hábil em traduzir em imagens o estado de espírito dos seus protagonistas. Os planos e movimentação de câmera são eficientes como discurso que nos remete ao filme, como um todo. Logo no início, um movimento contínuo de câmera vai desde o computador e segue o fio da internet que sobe pela parede até o teto do quarto. Um plano-síntese, relaciona-se fortemente à condição dos jovens representados. Este não é o único plano-síntese do longa.
Inicialmente, Os Famosos e os Duendes da Morte parece ser um filme centrado em relações cotidianas, nos pequenos diálogos entre o protagonista e o melhor amigo. Ou entre ele e a mãe, tudo feito de forma a dar corpo ao tédio de adolescentes “aprisionados” num lugar pacato, sem maiores acontecimentos. Porém, alguns elementos misteriosos irão dominar a narrativa.
O jovem protagonista é obcecado por uma garota que só existe no espaço virtual, em vídeos que diferem em textura e composição. Um mundo à parte, onírico, é estabelecido, auxiliado pela trilha contínua.
Esses vídeos acessados da internet, que chegam a tomar toda a tela, são belos, mas, utilizados de forma constante, quebram completamente o ritmo do filme. O cineasta parece tão seduzido por essas imagens quanto o jovem representado no filme.
Essa sequência de imagens acrescenta pouca informação à narrativa, saberemos muito lentamente o motivo da fixação do jovem por essa garota virtual. Além dela, há outro personagem misterioso, sobre quem também saberemos muito pouco, quase nada. Daí, configura-se o enigma (imagens repetitivas da garota + personagem misterioso que perambula pela cidade), que se prolonga ao longo de quase duas horas de projeção.
Fato é que o longa torna-se longo, mesmo, pois é reduzido a uma história mínima, de poucos acontecimentos, e que se arrasta na construção de um estado de melancolia vivido pelo personagem principal. No final, quando os diferentes elementos se juntam, o impacto é pequeno. É difícil compartilhar da catarse emocional proposta pelo diretor.
Outro motivo que nos distancia da trama é o gosto pelo belo que ao invés de reforçar, sobrepõe-se à história e chega mesmo a prejudicar o sentido das ações retratadas. O ato de suicídio de uma moradora da pequena cidade, por exemplo, é representado através de um plano fechado nos pés. Ela se jogará da ponte, local marcado por outros suicídios. A mulher se lança à morte após tirar os pés de um lustroso par de sapatos vermelhos. Esse elemento do figurino, em destaque pelo plano aproximado, nos diz mais do gosto do diretor pelo estético do que sobre aquele ato de desespero.
Em Os Famosos e os Duendes da Morte todos os elementos importantes à narrativa estão presentes, não resta dúvida quanto a isso. Mas, mal dosados, resulta num filme que carece da força que a história solicita.
Por Marília Hughes Guerreiro
Visto no Unibanco Arteplex, Mostra Internacional de Cinema de SP