
Onde Vivem os Monstros
Em Onde Vivem os Monstros (Where the Wild Things Are, 2009), de Spike Jonze (Quero Ser John Malkovich, 1999, e Adaptação, 2002) o pequeno e solitário Max (Max Records) refugia-se num mundo de criaturas engraçadas, verdadeiros bichos de pelúcia, mas grandes e perigosos, justamente por agirem feito crianças.
Vale ressaltar os momentos iniciais do longa, quando, solitário, Max busca a companhia da irmã e amigos dela. Numa guerra de neve, o iglu de Max é destruído. Da alegria ao desespero, numa fração de segundos. Do carinho ao ódio. Todos os monstros adormecidos de Max vêem à tona e o levam à destruição e, depois, ao refúgio.
Max vai à terra dos monstros, réplica dos seus brinquedos, por sentir-se contrariado, solitário, angustiado no mundo da mãe e irmã. O garoto vai de encontro, literalmente, aos seus monstros, que são tão fofos quanto perigosos.
Nesse mundo estranho, Max torna-se o líder. Ele comanda as brincadeiras, muitas delas sem limites, onde os mais fortes acabam machucando os mais fracos. O afeto mistura-se rapidamente ao gosto pela violência.
Aos poucos, Max tem que lidar com as expectativas e frustrações sobretudo de Carol, um monstro amoroso, mas que tem grande dificuldade em lidar com seus medos. Carol quer ter uma família unida, mas muitos de seus atos fazem com que seus entes queridos se afastem. A raiva desperta forte agressividade em Carol, o que coloca a vida de Max em risco.
Compreender Carol em sua irritabilidade e desejos é compreender a si mesmo, os próprios monstros de Max e do espectador. Carol é o duplo de Max.
Onde Vivem os Monstros é um filme que lança um olhar afetuoso sobre o mundo infantil. Período turbulento e rodeado de mundos paralelos.
Mas, mais do que isso, o longa propõe um ritual de passagem que pode ser significativo não apenas para crianças, diga-se, mas para todos que identificam os bichos adormecidos que povoam a todos e que nos fazem ter menor grau de tolerância com a vida, de uma maneira geral.
Trata-se de uma fábula emotiva, mas longe da pieguice. Os textos são inteligentes e soam sempre verdadeiros na boca do pequeno Max, que possui forte magnetismo. Sem dúvida, o carisma do jovem ator é responsável por muito da credibilidade do filme.
A troca de olhares entre mãe e filho, nos instantes finais, enquanto Max come algo após longa jornada de aventura e transformação, é de uma beleza tocante.
Dos 8 aos 80, vale à pena ver o filme.
Por Cláudio Marques
Visto no Espaço Unibanco de Cinema – Glauber Rocha