
Não Tenha Medo do Escuro
Por Rafael Carvalho
Dirigido pelo cartunista e estreante no longa-metragem Troy Nixey, Não Tenha Medo do Escuro vem sendo divulgado como projeto do mexicano Guillermo del Toro, roteirista (juntamente com Matthew Robbins) e produtor desse filme de horror. Claro, seu nome possui muito mais apelo comercial, além da percepção de muita coisa próxima a seu universo temático, como a utilização de crianças como protagonistas e a predileção por criaturas fantasiosas, estranhas e, nesse caso, tenebrosas (basta lembrar de O Labirinto do Fauno e A Espinha do Diabo).
O prólogo já apresenta ao espectador um pintor atormentado, no porão de seu casarão, tendo que saciar a vontade de seus algozes (que nunca vemos, só ouvimos o sussurrar de vozes medonhas que vêm das profundezas de uma lareira). A partir daí, instala-se o mistério em descobrir o que tanto o perseguia e por que. Tempos depois, acompanharemos a pequena e introvertida Sally (Bailee Madison) chegando na mesma mansão que agora pertence a seu pai (Guy Pearce) e sua nova namorada (Katie Holmes). É a garota quem vai descobrir a passagem secreta, despertar o terror que habita o local e se tornar sua próxima vítima.
Na verdade, o filme é a adaptação de uma produção televisa de 1973 e intitulada Criaturas da Noite. Talvez por isso estejam lá os lugares-comuns do gênero terror/horror, mais uma vez reprocessados aqui pela história, como a ambientação no casarão misterioso com passagens e cômodos secretos, a garotinha que estabelece contato com seres sobrenaturais, os adultos que não acreditam nela.
Mas na mesma medida em que o filme reprisa esses elementos, apresenta também possibilidades novas de apreensão quando revela, já na metade do filme, os responsáveis por todo aquele temor, o que impede a história de ficar dando voltas em cima do mesmo centro narrativo.
Por outro lado, essa é uma escolha controversa porque a partir daí toda a narrativa perde o tom de mistério e suspense (porque já se conhece o “inimigo”, inclusive vendo suas formas) e passa a apostar mais num horror físico, no temor pelos estragos que eles são capazes de provocar (o ataque brutal – mais uma marca de del Toro – a um dos personagens é bastante eficiente para gerar essa atmosfera de perigo). Uma pena que esse efeito seja maior para o espectador do que para os personagens que, depois disso, parecem pouco preocupados com aquela situação, o que minimiza bastante o tom geral de medo. Além disso, o longa deixa a desejar uma explicação mais interessante e pertinente para a origem do fenômeno monstruoso.
Se o roteiro do filme tem seus altos e baixos por conta dessas escolhas, um dos grandes trunfos do projeto é a grande presença de cena da pequena Bailee Madison que vive Sally com uma segurança invejável. A garota, insatisfeita por vir morar com o pai (divorciado da mãe que não parece gostar tanto de cuidar da menina) sente uma espécie de rejeição, uma vez que o pai está muito mais preocupado com a reforma do casarão do que em dar atenção à filha. Assim, Sally surge como uma garota dura e nada frágil, portando sempre uma expressão fechada e imponente, e trata com o mesmo destemor a situação de horror com que se depara. Uma brava heroína, portanto.
Ao pensarmos nos filmes de terror que nos chegaram este ano, como A Casa, O Ritual, Pânico 4, Aterrorizada (lançado diretamente nas locadoras, dirigido por ninguém menos que John Carpenter) e Sobrenatural, para citarmos algum, Não Tenha Medo do Escuro parece ser o melhor deles, mesmo apesar de suas irregularidades. E isso só reforça a ideia de um gênero tão castigado e carente de bons exemplares atuais.