Por João Paulo Barreto

Ethan Hunt está envelhecendo. Nota-se tal fato não somente pelo rosto de Tom Cruise, marcado de forma perceptível pelo tempo, como, também, pelo modo como esse novo exemplar da franquia Missão Impossível apresenta-se mais sóbrio. A direção de Brad Bird, longe da pirotecnia exagerada e dos pombos de John Woo ou da áurea paranóica de espionagem de Brian De Palma, consegue apresentar uma identidade própria ao brincar com os conceitos da série e acerta em cheio ao saber fazer piada de si mesma.

A história é bem simples: após um ataque terrorista ao Kremlin, a equipe liderada por Hunt (Cruise), que acaba de ser libertado de uma prisão russa, precisa encontrar o responsável pelo ato uma vez que a culpa caiu justamente sobre a IMF. Desta forma, caberá ao time e, que também foi acusado do roubo de códigos que ativam ogivas nucleares russas, caçar o terrorista nas já tradicionais viagens pelas principais cidades do mundo.

O que diferencia Missão: Impossível – Protocolo Fantasma ainda mais dos outros três filmes é o modo como os pontos de comédia foram inseridos na trama. De forma inteligente, os produtores colocaram o agente Benji Dunn (interpretado por Simon Pegg), com bem mais destaque dentro da equipe de Ethan Hunt. As suas tiradas acabam sendo o melhor escape para as tensas sequências de ação. E estas não são poucas. O filme parece se esforçar para manter um nível cômico em evidência na maioria de suas cenas. Além de Pegg, o ótimo ator indiano Anil Kapoor (Quem quer ser um milionário?) diverte como um nada discreto magnata das comunicações.

Os roteiristas Josh Appelbaum e Abdrpe Nemec, a dupla responsável por diversos episódios de Alias, série criada por JJ Abrams (que, aqui, assina como produtor), brincam com as marcas registradas da série, desmistificando alguns símbolos, como o pavio aceso no início da história, indicando a execução da famosa trilha sonora de Lalo Schifrin trabalhada de modo eficiente por Michael Giacchino, e as mensagens que se autodestroem em cinco segundos (a falha do circuito de autodestruição neste exemplar da franquia cria uma ótima referência cômica). Em outro ponto vemos Benji ansioso por querer usar uma das máscaras que os equipamentos da IMF constroem à perfeição. Não é com surpresa que observamos o equipamento dar defeito, frustrando o sonho do agente. O filme parece se esforçar para demonstrar uma IMF repleta de falhas, caçoando da perfeição sistêmica que os outros três longas da franquia traziam da agência. Mas, claro, a organização ainda apresenta um sem número de brinquedos hi-tech, como a extensão disfarçada de vagão de trem, o projetor de cenários visto na cena do Kremlin e, óbvio, o carro do agente Hunt.

Apesar de seguir o mesmo protocolo (!) dos outros três filmes no sentido de criar as suas cenas em torno da ideia de locais-difíceis-de-se-invadir-mas-que-vamos-conseguir-mesmo-assim, o longa de Brad Bird consegue ser original justamente por não abusar desse viés. E quando a construção destas cenas segue por outra vertente, fugindo do esquema apresentado acima, é que o longa funciona melhor. Vide, por exemplo, a sequência da perseguição a pé e de carro pelas ruas de Dubai em meio a uma tempestade de areia ou a luta para recuperar certa maleta dentro de um edifício garagem. Duas cenas que já figuram entre as melhores da quadrilogia.

Apesar dos vários acertos, o filme traz de volta à tona o clichê da rivalidade entre russos e estadunidenses. Além disso, peca ao apresentar um vilão caricato que (mais uma vez) quer lançar um míssil contra o país americano. E o modo como essa tentativa é resolvida pelos agentes frustra o espectador com uma resolução conveniente e mal amarrada, mas que não chega a prejudicar o conjunto.

Brad Bird, experiente com animações (Ratatouille e Os Incríveis), demonstra competência, também, em live action.