Invictus

Preso em 1962, condenado à prisão perpétua por atividades guerrilheiras, solto apenas em 1990, Prêmio Nobel da Paz em 1993, eleito presidente da República em 1994… Trata-se de Nelson Mandela, líder sul-africano, que é vivido por Morgan Freeman em Invictus, de Clint Eastwood.

No longa, Mandela está em seus primeiros momentos na presidência da República. Entre alguns dos seus mais significativos atos, o líder divide sua segurança pessoal entre os velhos amigos e os mesmos agentes treinados pelo antigo governo segregacionista. Aliás, seguranças e empregados domésticos não são meros coadjuvantes nesse longa.

No mesmo sentido, Mandela empenha-se em fazer com que o time nacional de rugby represente a todos, não apenas a minoria branca. Fato é que o esporte é uma herança direta da violenta colonização inglesa, que dividiu radicalmente brancos e negros. A África do Sul foi formada com brancos praticando o rugby e os negros o nosso futebol.

Invictus narra o processo de adesão de todo um pais ao rugby antes e durante a Copa do Mundo de 1995, que aconteceu em plena África do Sul. Nesse sentido, vale dizer que é um filme óbvio, com lances já vistos em diversas obras do gênero. O time nacional, desacreditado, ganhará nos últimos segundos, sob os olhares incrédulos de toda a nação. A música triunfante não foi descartada.

A própria direção de Clint é econômica. Plano e contra-plano, tudo em função de uma narrativa clássica e eficiente. O cineasta filma de forma rápida, industrial. Não tem tempo a perder. Um e até dois filmes de qualidade por ano. Cinemão sem firulas, mas também sem grandes vôos. Talvez, a única cena deslumbrante de Invictus seja, justamente, a de um avião no ar… como se filma daquele jeito?

O mais importante de Invictus é a lição política de Mandela. E o ator norte-americano está incrível, transpira o carisma do líder negro. Anda, movimenta-se de forma muito próxima, confere credibilidade ao personagem, ao filme como um todo.Freeman transpira a doçura desse sujeito, que sobreviveu a 28 anos de cativeiro e foi capaz de sair de lá pregando o perdão.

A falta de radicalismo o isolou de muitos companheiros antigos e de sua própria família. Nesse sentido, de que a política se faz através da luta ao ressentimento, Invictus é uma aula de política!

Abaixo, o poema que dá nome ao filme, escrito pelo escritor britânico William E Henley (1849-1903). Invictus foi fundamental para que Mandela tivesse força suficiente e não quebrasse durante o período em que ficou na prisão.

 

Invictus

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu – eterno e espesso,
A qualquer deus – se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei – e ainda trago
Minha cabeça – embora em sangue – ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda – eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

 

Por Cláudio Marques

Visto no Espaço Unibanco de Cinema – Glauber Rocha