Por João Paulo Barreto
Mais uma tentativa infeliz de se alcançar o status de 300 como cinema estilístico de fatos históricos e lendários (a outra recente foi o ato infame chamado Fúria de Titãs), Imortais até consegue criar boas sequências de ação, no entanto, diálogos excessivamente expositivos, repetição clichê de efeitos especiais em lutas coreografadas de modo idêntico e tomadas que emulam de forma descarada o longa de Zack Snyder insultam quem assiste a obra tanto quanto os absurdos das reinterpretações das lendas gregas.
Inserir nos trailers a informação de que o longa foi produzido pelos mesmos responsáveis do filme dos espartanos soa como uma espécie de pedido de desculpa aos espectadores pelo que estamos prestes a testemunhar. São trechos inteiros copiados da obra de Zack Snyder (ironicamente, chamado de visionário. Tá, sei…). Produzir um outro longa e afirmar isso como peça de marketing é sinal de permissão para copiar sequências inteiras? Pelo visto, para o diretor Tarsem Singh (responsável pelo terror trash A Cela), sim. Não tarda muito para este também ser chamado de visionário…
A trama é bem simples: Teseu (Henry Cavill, o novo Superman), grego ateniense, é um guerreiro que não faz parte do exército oficial. Estudou filosofia e técnicas de combate com um velho ancião local (John Hurt, encarando a dura pena de envelhecer com raros bons papéis – não é o caso desse, friso) e futuro herói que vai achar o Arco de Épiro, arma chave para a futura batalha final. Tal arco é caçado pelo Rei Hiperion (Mickey Rourke, de longe, a melhor coisa do filme), que pretende usá-lo para libertar os Titãs, aprisionados por milênios após perder a batalha com Zeus e seus pares. Desse modo, o monarca causará uma nova batalha entre os deuses causando a destruição deles.
Assistindo ao filme, me perguntava se há algum limite para a liberdade criativa de um autor em adaptar a História em si. É realmente cabível reimaginar Teseu como um simples guerreiro e não como o príncipe de Atenas? Nada menos que o homem que matou o Minotauro, monstro que habitava o lendário labirinto? Ao que tudo indica, para a dupla de irmãos e roteiristas Charley e Vlas Parlapanides (que possui ascendência grega, inclusive) não é muito importante manter um mínimo de fidelidade histórica ao projeto. Afinal, a representação da morte do Minotauro pode ser feita apenas com Teseu matando um capanga saído de Mad Max 3 que o público nem vai perceber. Não que 300 seja um exemplo de embasamento histórico, mas, no entanto, a obra de Snyder possuía uma identidade própria, utilizando os fatos históricos como peças importantes no roteiro, não como muletas para o desenvolvimento da trama.
Mickey Rourke interpreta Hiperion da forma como virou uma marca do ator. Repleto de brutalidade, ele faz jus à analogia feita com seu personagem, Marv, em Sin City, quando afirmam que ele nasceu na era errada. Deveria ter sido um gladiador destruindo crânios na antiguidade. Aqui, a voz gutural de Rourke somado aos hábitos de sempre falar enquanto come, constrói um personagem de acordo com a proposta do longa em se criar um vilão brutal e asqueroso. A cena em que a genitália de um homem é destruída apenas para provar um ponto de vista do rei demonstra isso muito bem.
Apesar do fato de perder mulher e filho ser razão suficiente para torná-lo uma pessoa revoltada e vingativa, as motivações do personagem de Rourke acabam se tornando rasas, tal qual a de outros da trama. É o caso de Lysander, soldado repreendido pelo seu superior após seguir uma das ordens oficiais e que, apenas por essa razão, se volta contra seu povo aliando-se a Hiperion. No final, percebe-se que dedicar o tempo que fosse ao personagem não valeu de nada. E o que dizer de Phaedra (Freida Pinto), que se já não fosse suficiente a total falta de expressão da atriz, ainda temos uma personagem dita oráculo, capaz de prever o futuro, que se tiver relações sexuais perde seu dom. Ganha dez em História quem acertar o que ela faz com Teseu.
No final, Imortais acaba sendo um filme galgado em efeitos especiais para lutas coreografadas de modo repetitivo, com direito ao já tradicional discurso motivador feito pelo herói antes da batalha final, e, claro, o gancho para uma continuação. Da próxima vez, prefiro rever Jasão e os Argonautas.