
Ilha do Medo
Ilha do Medo (Shutter Island, EUA, 2010) é daqueles filmes de suspense tão raros quanto assombrosos. O longa tem a capacidade de nos arrastar para dentro de um mundo onde nos tornamos frágeis, pois impotentes e incertos do que se passa ao redor. O desenrolar da trama perturba os sentidos, quebra as barreiras naturais de defesa, conduz a uma terrível sensação de insegurança. Scorsese nos leva ao pior dos combates, que é o interno, contra a nossa própria mente. Ilha do Medo é um mergulho no pior de si mesmo!
Na tentativa de nos manter a salvo, nos prendemos aos clichês do gênero, ficamos ansiosos por entender em que ponto o mocinho será salvo, mas o diretor não nos poupa. Como num sonho ruim, o despertar nos deixa aliviados, mas ainda abalados por um bom tempo.
Espécie de junção do melhor de David Cronenberg (A Mosca, Mistérios e Paixões) e Alfred Hitchcock (Disque M para Matar, Um Corpo que Cai, Os Pássaros), o longa de Martin Scorsese nos joga num campo de terror psicológico, em que as noções de loucura e realidade se alternam a cada nova rodada. Não que Scorsese jogue sujo, deixe de revelar segredos e trabalhe com a surpresa, como faz O Sexto Sentido, de M. Night Shyamalan, por exemplo, um caso notório. Ilha do Medo é um filme de suspense genuíno, não de sustos.
A trama se passa em 1954 e o mundo se encontra fortemente traumatizado pela segunda Guerra Mundial, pela explosão da bomba Atômica e a Guerra Fria.
O detetive Teddy Daniels (Leonardo Di Caprio, em sua quarta parceria com Scorsese), ex-combatente de guerra, vai até o presídio psiquiátrico de segurança máxima localizado em Shutter Island, na tentativa de descobrir o paradeiro de uma prisioneira desaparecida. Lá, ele vai se deparar com seus próprios sonhos e traumas.
É certo que alguns maneirismos da arte e efeitos especiais (a cena em que a mulher do detetive transforma-se em cinzas, por exemplo), juntamente com uma luz dura e exacerbada às vezes desloca a atenção do espectador. Mas, a força da trama e talento de Di Caprio nos restituem à cruel trajetória do detetive.
Ilha do medo é um filme de quem sabe das coisas e está num momento em que pode e deve arriscar, para não se repetir, cair no mais do mesmo.
Devo confessar que poucas vezes tive tanto medo durante a projeção de um filme. Talvez, como em Ilha do medo, somente com O Iluminado, de Kubrick. Ufa!
Por Cláudio Marques
Visto no Espaço Unibanco de Cinema – Glauber Rocha