Por Rafael Carvalho

Comédia romântica disfarçada de filme de ação. É a volta do diretor McG a esse tipo de produto pelo qual ficou conhecido depois de fazer os subestimados (e talvez mal compreendidos) As Panteras e sua continuação As Panteras: Detonando. A diferença é que esses seus filmes anteriores (o primeiro, especialmente) eram bem mais engraçados, não se levavam a sério porque abraçavam sem pudores o pastiche. Exigiam uma postura relax de um público acostumado a receber dos filmes aquilo que eles pareciam prometer de imediato: ação ou comédia.

Pois Guerra é Guerra, ao seguir essa mesma cartilha da dupla caracterização, pode continuar soando como produto estranho (indefinido), ou então agradar pelo inusitado da proposta. E pensando bem, funciona também como uma esperta estratégia de mercado para atrair tanto o público feminino quanto o masculino nos seus respectivos gêneros “preferidos”. De qualquer forma, ainda assim seria mais proveitoso se tivesse um humor que valesse a pena, falta essa que já se tornou comum nos filmes do gênero, principalmente os hollywoodianos.

Na trama acompanhamos dois agentes do serviço secreto norte-americano que são grandes amigos desde pequenos (Chris Pine e Tom Hardy). Coincidentemente, eles passam a se envolver com a mesma mulher (Reese Withespoon), tímida e desesperada por encontrar um namorado. Daí que a rivalidade que os dois amigos nunca tiveram afloram na disputa de quem conquista a mulher primeiro. Uma rixa de cavalheiros, portanto, mas que logo descamba para os golpes baixos de ambos os lados.

É uma premissa das mais divertidas, ainda mais quando o filme demonstra, por exemplo, que possui um texto ligeiro, com ritmo, ajudado por uma edição bem equilibrada e certeira, mas peca justamente por não ter graça, falta humor. Aí é que o filme não se sustenta como comédia. Por outro lado, as cenas de ação são boas e bem divertidas, embora estejam ali mais para ambientar o mundo repleto de perigos com os qual os dois agentes estão acostumados a lidar e que passam a infligir um ao outro.

Além disso, no seu movimento cíclico, o filme acaba se repetindo, através da briga de Tom & Jerry, que, por vezes, reveza qual deles caça o rato, tentando deter o controle fazendo o outro perdê-lo. Se em determinado momento um é que está levando a garota para seu apartamento, sendo pego desprevenido com alguma armação do rival, no outro dia é o próximo quem a está levando-a para jantar, já com a expectativa de ser sabotado de alguma forma, mas lidando com isso como se fosse uma grande surpresa. E assim o filme segue até um final em que se espera uma decisão por parte da moça, tentativa do longa de criar uma certa expectativa que se sustente até o fim.

É como se McG brincasse a todo tempo com as convenções dos filmes de ambos os gêneros, embora, ao pender para a comédia, pareça fazer a escolha errada justo porque é na ação que o longa encontra os melhores momentos (mesmo que descontextualizados porque pouco importa em quais missões secretas os dois agentes estão envolvidos; elas só servem de pano de fundo). Da mesma forma em relação ao elenco, o timing cômico de Reese Witherspoon, geralmente uma atriz bem mediana, enfraquece esse lado do filme, enquanto Chris Pine e Tom Hardy, esse em especial, seguram muito bem a ação, além de demonstrarem bom tino para o cômico (que poucas vezes aparece).

Assim, Guerra é Guerra lembra um pouco Sr. & Sra. Smith (o que não é das melhores referências, diga-se) em que a briga de gato-e-rato dá voltas em torno de si mesma durante toda a projeção até alcançar seu ápice (numa boa cena, não dá para negar), apesar de ambos os filmes lidarem com motivações distintas por parte de seus personagens. Melhor seria se McG se arriscasse mais, como já soube fazer.