Guerra ao Terror

Em Guerra ao Terror (The Hurt Locker), de Kathryn Bigelow, o protagonista é responsável por desativar bombas, muitas delas em corpos de outros seres humanos.

Estamos em solo iraquiano e será possível observar os acontecimentos através de uma câmera 16mm sempre na mão, que treme freneticamente, não dá descanso ao olhar. A idéia é simular o tempo presente, o registro ao vivo, mas a intenção da cineasta se perde diante dos cortes sucessivos e alternância de ângulos do mesmo plano, que revelam claramente a ficção.

Uma ficção que dramatiza o que já é por demais dramático, num sensacionalismo de bombas que explodem chão e fazem pessoas voar em câmera lenta.

Guerra ao Terror (uma péssima tradução, mas que capta bem o espírito do filme) gira em torno do heroísmo do soldado americano e da barbárie representada pelo insurgente iraquiano. Ainda estamos no campo do bem e do mal, como definiu o “poeta” das guerras, George Bush.

É o iraquiano que mata uma criança e coloca bombas em seu corpo. É o iraquiano que arma dezenas de quilos de explosivos em um civil inocente. E será o soldado norte-americano que tentará desarmá-las, todas, mesmo faltando pouco mais de dois minutos para uma gigantesca explosão. Tentará desarmar, ao tempo em que pede desculpas ao iraquiano, diante da possibilidade de não conseguir.

Kathryn Bigelow constrói campo de força em torno desses soldados dos EUA, dotando-os de incrível humanidade. Guerra ao Terror faz parte do esforço de um país em guerra, que ainda quer se certificar de que está do lado correto.

O que há de mais interessante no filme, sem dúvida, é a idéia de que esses mesmos soldados são absolutamente viciados pela adrenalina da guerra e que não estão mais aptos à calma do lar, aos tempos de paz. São heróis, mas doentes.

As mais impactantes cenas do filme não estão no Iraque. Estão num simples supermercado dos EUA, onde o entediado soldado não suporta a visão de uma prateleira inteira de caixas de cereais. Tal situação o mortifica, de fato! Seu lugar não é no sossego do lar ao lado da mulher, mas no combate, no perigo eminente da explosão. Essa é a tal droga que vicia, que torna os EUA a nação beligerante por tradição e natureza.

Para a alegria e descanso do espectador, o último plano do filme é em combate, mas fixo e aberto, com o “super-homem” dos EUA a caminho de mais uma bomba a desativar. Parece que dará pulos no ar, de tanta felicidade. Aí, sim, a perturbação dilacerante da guerra.

 

Por Cláudio Marques

Visto no Espaço Unibanco de Cinema – Glauber Rocha