Gigantes de Aço

Por Rafael Carvalho

Da brutalidade de uma nova modalidade de esporte surgida num futuro não muito distante e nunca definida em que robôs brutamontes se destroem mutuamente em ringues de boxe, pode surgir uma história que pretende ser cativante. Uma pena que Gigantes de Aço esbarra em um roteiro cheio de truques (às vezes baixos) para facilitar os caminhos de seu protagonista para a redenção, embora consiga no meio do caminho causar certa carga de afeto.

Em meio ao universo violento e repleto de jogadas que envolvem largas somas de dinheiro, o filme escolhe em apostar num tom de afeição para nos introduzir a esse universo. Essa escolha já se evidencia na relação a ser construída entre um agente de lutas, Charlie (Hugh Jackman, durão, mas boa pinta), afundado em dívidas, e seu filho de onze anos (Dakota Goyo) que ele nunca viu na vida. Com a morte da mãe do garoto, Charlie vai ter de ficar com o menino por alguns dias até que passe a guarda (por sua própria escolha) para a tia materna do garoto.

Não é difícil perceber o caminho de superação e de revisão de conceitos pelo qual Charlie vai passar. Na verdade, nada contra isso. O problema são as concessões que precisam ser feitas a partir de um roteiro com algumas inconsistências que precisam ser engolidas para continuarmos conectados à história. Daí que soa frágil demais, por exemplo, a “desculpa” para deixar o garoto passar um tempo com o pai irresponsável que nunca se importou em ter notícias do menino (mas sem essa premissa, não haveria o filme). Ou mesmo as lutas que parecem ganhas ou perdidas ao bel-prazer da história porque a maioria delas são improváveis ou questionáveis.

Além disso, o desenho dos personagens esbarra no estereótipo. Com exceção da tia do garoto, que poderia ser facilmente pintada como a malvada da história, e talvez também de Charlie, que aprenderá na marra as agruras e benefícios do ofício de pai, todos os outros personagens apresentam lá suas caricaturas que os reduzem a tipos performáticos, tipo de coisa poucas vezes bem-vinda.

A começar pelo filho que surge como o garoto prodígio que age, fala, pensa e se porta como adulto, discutindo de igual (ou de forma até superior) com os demais personagens. Complica ainda mais o fato de que o filme aposta grande parte da empatia do público com esse menino-gente-grande; por vezes, entretanto, a interação dele com o pai funciona (e muito pelo carisma que Hugh Jackman imprime a seu personagem). Há ainda os grandes rivais do maior campeonato de lutas de robôs, sempre surgindo como autoconfiantes e com a cara de mal mais maléfica possível.

Mesmo assim, Gigantes de Aço possui um ritmo narrativo preciso, nunca deixando a peteca cair, o que acaba se revelando importante também como estratégia de não nos fazer perceber os deslizes de roteiro. Junta-se a isso o ótimo trabalho de efeitos especiais que fazem os movimentos das máquinas de luta soarem as mais críveis possíveis. Mas é interessante notar que existe um cuidado em não valorizar somente a ação, mas também a trajetória desses personagens rejeitados, seja o pai e seus rumos incertos de vida, seja o garoto perto da orfandade, ou mesmo o velho robô encontrado sob escombros que vai se tornar a grande arma dos dois nos ringues.

O cinema é feito de truques, isso é fato, mas eles nem sempre precisam ser rasteiros. Gigantes de Aço tem um grande coração, cativa em alguns momentos, mas ainda assim peca pelo tratamento por vezes enganador. O filme conspira sempre a favor de seus personagens. Os resultados são sempre os que se espera nesse tipo de projeto.