Por Luis Fernando Pereira
Semana passada (23 a 28 de fevereiro) a cidade de Salvador foi palco da quarta edição do Festival do Júri Popular, evento onde cerca de 30 filmes de curta-metragem concorrem em oito categorias e quem escolhe os vencedores é o público. Como as exibições ocorrem em diversas cidades e em diversas datas, ainda não foram revelados os ganhadores oficiais, mas certamente em cada um dos locais do evento os espectadores já escolheram seus favoritos. E são muitos os trabalhos dignos da estatueta de melhor curta-metragem, vale menção.
Para esta edição foram aceitos projetos lançados entre os anos de 2010 e 2011, transformando assim o festival em um importante registro do que vem sendo produzido de mais interessante no cinema atual, ao menos no que tange o mercado de curtas.
Falando um pouco da estrutura oferecida aqui em Salvador, diria que o evento ainda precisa ganhar certo fôlego para se inserir de modo mais incisivo na agenda de cinema da cidade. O local até que não compromete muito o evento, já que a sala Walter da Silveira possui uma importância simbólica bem grande para a comunidade cinéfila soteropolitana. Contudo, seus equipamentos ainda estão um pouco a dever, necessitando de uma boa reforma para quem sabe voltar a viver os bons tempos já antes vividos.
Outro problema detectado diz respeito com a comunicação, mais estritamente a divulgação que o festival teve nas mídias locais. É bem visível que falta um trabalho mais estratégico da assessoria de comunicação da SECULT/DIMAS (a sala é de propriedade do governo estadual) para levar público aos seus cinemas, pois o que se viu, ao menos nos três primeiros dias, foi a sala esvaziada em quase todas as sessões. Triste constatação.
Mais triste que isso foi verificar que em uma sala com pouco mais de cinco espectadores, pessoas ainda se predispõem a conversar durante a exibição dos filmes. Está se tornando um problema mais que crônico essa falta de educação do público consumidor de cinema na cidade. Acredito que não seja tão diferente no resto do país.
Mas deixando as notas tristes de lado, vamos falar dos projetos exibidos, que foram em grande maioria no mínimo bons. Alguns se sobressaíram, como por exemplo, Praça Walt Disney, de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira. Este curta saiu-se vencedor da última edição do Festival Internacional Panorama Coisa de Cinema, mas naquela época não tinha ainda percebido a força narrativa que ele possui. Um trabalho muito bem produzido, que trabalha temáticas bem interessantes e que aliado a isso faz um competente trabalho de câmera, com algumas tomadas muito bem construídas.
Outro bom trabalho exibido foi Náufragos, de Matheus Rocha e Gabriela Amaral Almeida. Gabriela – baiana radicada em São Paulo – já mostrou a que veio com seu outro projeto, Uma Primavera, excelente filme sobre o desabrochar da adolescência na perspectiva de uma menina. Em Náufragos ela continua com seu trabalho de contar histórias com abertura para metáforas da vida. Belo curta-metragem.
Outro merecedor de elogios é Oma, de Michael Wahrmann. Oma trata da relação existente entre duas pessoas que não se entendem por conta das diferenças de língua (português e alemão), mas que definitivamente se gostam. Uma história que ganha muito por conta da personagem principal, a Oma (avó, em alemão). Belo e sensível filme.
Há de se destacar também que além do curta de Gabriela Amaral, somente mais um dos projetos é originário da Bahia. Sala de milagres, de Cláudio Marques e Marília Hughes, trabalho que representa muito bem o cenário baiano. Mas esperemos que na próxima edição haja mais que dois representantes do Estado.
Alguns trabalhos servem como documento histórico bem relevante, como Meia hora com Darcy, de Roberto Berliner. Outros ganham pontos por sua ousadia narrativa, como Dona Sonia pediu uma arma para seu vizinho Alcides, de Gabriel Martins. Já Ovos de dinossauro na sala de estar, de Rafael Urban, realiza um trabalho de direção de arte dos mais competentes. De saltar os olhos. Muitos outros merecem elogios, como o premiado Licuri Surf, de Guilherme Martins, mas para não me alongar muito, me restringirei a estes já comentados.
Não restam dúvidas que o Festival do Júri Popular já possui grande importância para os grupos que vivenciam mais intimamente o cinema. Falta-lhe agora ganhar massa muscular nas cidades em que são exibidas as programações. Ao menos em Salvador ainda falta. E o festival merece ser visto. Muito bem visto, pois ele é ótimo.