Cinema em Expansão

Por Cláudio Marques

Em texto publicado na última quinta no jornal A Tarde, Raul Moreira constrói uma imagem negativa dos últimos acontecimentos cinematográficos na cidade a partir da reação adversa a um único filme, dentre mais de 60 exibidos.

Raul nos induz a pensar que os cineastas Edgard Navarro e Lázaro Farias teriam sido intolerantes a um novo cinema que desponta com muita potência.

A verdade é que na história do cinema brasileiro, poucas vezes experimentamos período tão duradouro de incentivo à produção como o que atravessamos hoje. Essa continuidade permite que a nossa cinematografia ganhe em força e maturidade.

Após acompanhar os curtas e longas no VI Panorama Internacional Coisa de Cinema, percebe-se que os cineastas brasileiros arriscam-se cada vez mais.

Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Marcelo Gomes e Karin Aïnouz, por exemplo, é afetivo e conduz facilmente o espectador sem que o protagonista apareça em cena, fisicamente, em momento algum. Emocionado, Edgard Navarro revelou a Marcelo Gomes, presente à sessão, que se sentia contagiado por aquela maneira tão criativa de tratar o cinema.

Já Lázaro Farias não economizou elogios à sensibilidade de Maya Da-Rin no debate que se seguiu à projeção do longa Terras.

Os debates foram intensos nesses dias, dada a oportunidade de diálogo com cineastas e atores. A maioria deles, dotados de pensamentos articulados e esclarecedores, escapando assim da idéia do autor meramente intuitivo.

É importante ressaltar a notável safra do curta-metragem no Brasil. Os filmes exibidos nos desafiam a olhar para o cinema de uma forma nova. A maior parte destes curtas está conquistando os principais festivais de cinema do mundo todo.

Num cinema diverso como esse, as opiniões a cerca dos filmes apresentados são divergentes. Alguns espectadores gostam mais de uma obra, outros não se identificam com determinada proposta… E assim se faz o debate, o aprendizado!

Vale lembrar que o cinema ainda é uma arte jovem, está engatinhando, e deve ser tão livre quanto diferente.

Comparar a produção atual com a dos grandes mestres é um exercício infrutífero.

O que se pode afirmar com convicção é que o cinema é uma arte potente em plena expansão.

 

* texto publicado no jornal A Tarde em 05/06/2010