Botinada: a origem do Punk no Brasil

Por Washington dos Santos Oliveira

Nas críticas que assinei nesse site procurei tratar de filmes recem-distribuidos e com uma cara mais “cinematográfica” e “festivalesca”. Mas não muito preocupado em criar uma linha bem definida de crítica, dessa vez não vou fazer um comentário de um filme nesses moldes. Ao invés disso, vou exercitar um comentário do filme Botinada: a origem do Punk no Brasil, que esse ano está completando 5 anos. Esse não é certamente um filmaço, mas pela temática me fez querer ver novamente e me estimulou a encarar como legítimo um comentário ao seu respeito.

O Botinada é um documentário realizado pelo ex-VJ da MTV e ex-apresentador do programa Musikaos da TV Cultura, Gastão Moreira, que teve fortes influencias da sua experiência na TV e construiu a linguagem do filme certamente nos moldes televisivos. O que pode fazer torcer o nariz de muitos cinéfilos.

É bem verdade que o documentário não apresenta novidades formais e tampouco ousadia em termos de linguagem cinematográfica. A estrutura do documentário chega a ser bastante convencional e até mesmo didática. A totalidade da obra é subdividida em blocos tematicos intitulados “Quer Saber o que é Punk?”, “Antes do Punk”, “Família” etc. Esses blocos por sua vez são construidos por meio de entrevistas com pessoas ligadas a gênese do movimento no Brasil; registros fotográficos de bandas; recortes de sessões policiais de jornais ; imagens antigas extraidas da TV e de outros documentários.

Não obstante o convencionalismo, o filme narra com bastante vivacidade e bom humor as primeiras experiências no âmbito da fruição e produção da cultura punk no Brasil. Não se limitando a um mero documentário musical, ele consegue dar conta de um cuidadoso e respeitoso trabalho de resgate dos simbolos da maldita cultura punk no contexto de uma reiterpretação histórica dos sujeitos que a vivenciaram, procurando pensar o contexto de ditadura em que nasceu o movimento no Brasil, o cenário musical da época, os padrões estéticos, a presença e a influência das diversas mídias.

O filme conta com imagens importantes do movimento como a do fetival punk Começo do fim do mundo e consegue levantar os precários registros das mais expressivas bandas: desde Inocentes, passando por Olho Seco, Coléra e tantas outras mais. A trilha sonora é bem selecionada e é composta por algumas pérolas de bandas hoje um pouco mais conhecidas como “Oi Tudo Bem?” dos Garotos Podres e “Festa Punk” dos Replicantes.

Trata-se de um filme que não me lembro de ter tido repercussão e de ter feito muito barulho, mas que faz juz aos bons comentários que foram feitos ao seu respeito. Ele é um importante documento sobre o movimento Punk, que pode interessar tanto a pessoas que queiram conhecer um pouco mais sobre essa cultura e construir uma reflexão antropológica a respeito de sua genese e desdobramentos; como também a pessoas mais voltadas à cultura underground procurando passar em revista a história de um dos mais importantes movimentos contraculturais.