
Atividade Paranormal 3
Por Rafael Saraiva
Qual a receita para o sucesso de uma continuação? Investir no público conquistado pelo(s) filme(s) anterior(es) ou conquistar novos espectadores? Aumentar a escala ou manter o foco? Em um gênero como o terror, onde filmes tornam-se franquias com uma velocidade enorme (e sequências são produzidas muitas vezes em intervalos anuais), essas são questões pertinentes que devem passar o tempo todo pelas cabeças de seus realizadores. E em se tratando especificamente de Atividade Paranormal, ainda deve haver outro dilema: se tornar ou não refém de seu formato? O “falso documentário” – com filmagens “supostamente” reais, cheias de imagens subjetivas, tremidas e com aspecto cru – está longe de ser novidade para o cinema de horror. Desde Cannibal Holocaust, que chocou as plateias na década de 70, esse é um subgênero que, associado ao marketing pesado, parece sempre funcionar nas bilheterias. Mas foi só com A Bruxa de Blair, em 1999, que a tendência pegou de vez, gerando inúmeros filhotes, entre eles, Atividade Paranormal. Mas se a sequência do filme da bruxa optou pelo formato convencional e fracassou miseravelmente (em crítica e público), aqui os realizadores mantiveram a abordagem, preferindo tirar leite de pedra para (tentar) evitar o desgaste.
Com a complicada tarefa de continuar uma história que não foi planejada para ter sequências, o roteirista Christopher B. Landon (que também escreveu a segunda parte) escolheu expandir mais e mais sua mitologia, criando toda uma teia de eventos que conecta os três filmes. Assim, passagens que haviam sido apenas citadas verbalmente ou apareciam em fotografias, aqui são encenadas, ilustrando a infância conturbada das irmãs Katie e Kristi, e a origem da maldição que as acompanha desde então. Para manter o estilo de pseudo-documental da franquia, aqui o protagonista é Dennis, então namorado da mãe das garotas, no ano de 1988. (Convenientemente) um cinegrafista de casamentos, ele tem a sua disposição todo um aparato de câmeras e fitas VHS que são postas em ação assim que os primeiros eventos sobrenaturais acontecem e constituem a matéria-prima das “filmagens encontradas” dessa vez. Altamente acoplado aos capítulos anteriores (inclusive amarrando algumas das pontas soltas deixadas), Atividade Paranormal 3 mira no seu público já cativo, que possui toda a trama ainda fresca na cabeça. Novatos não irão se afeiçoar minimamente por aqueles personagens e seus problemas, além de possivelmente ficarem perdidos no meio de tantas referências.
Ao menos o filme tem mais a oferecer para todos aqueles que não estão nem aí para a história, e talvez aqui esteja o grande diferencial dessa terceira parte. A dupla de diretores Henry Joost e Ariel Schulman entrega um trabalho bem menos engessado do que os antecessores, que eram esquemáticos ao intercalar sustos com cenas bem expositivas para desenvolver o roteiro. Dessa vez o resultado é mais fluido, com os detalhes da trama sendo transmitidos de forma mais orgânica e um clima de tensão que perdura continuamente (ainda que utilize as já características marcações de noite para preparar a plateia para momentos-chave). E verdade seja dita, o filme causa medo. Sejam previsíveis ou surpresas, os momentos tensos e de sustos são tão ou mais eficientes do que os dos filmes anteriores. Contando com uma engenharia de som cuidadosa (rangidos, passos, tremores, estática e outros elementos sonoros são claramente distinguíveis, causando uma imersão enorme) e uso muito eficiente de efeitos especiais (mas sempre de modo discreto), Atividade Paranormal 3 se destaca pela sua capacidade de assustar e construir um clima pesado, satisfazendo os desejos de boa parte da plateia: sustos e mais sustos.
Do ponto de vista técnico, o filme é obrigado a fazer algumas concessões. Todos que já possuíram uma coleção de VHS sabem como sua imagem se degrada ao longo do tempo, então é impossível conceber que fitas com quase 20 anos de idade (levando em consideração que o “presente” da cronologia da série se passa em 2006) estivessem com uma qualidade tão boa quanto a que é mostrada na tela. Ao menos elas possuem um pouco menos de definição, evidenciada principalmente durante as (poucas) cenas externas, se comparadas ao padrão de uma gravação amadora feita nos dias de hoje. Por outro lado, a ambientação do final dos anos 80 é muito eficaz, envolvendo roupas, cabelos, equipamentos (destaque o grande telefone sem fio e o protagonista reclamando da limitação de só poder gravar seis horas) e referências da cultura pop (diálogos envolvendo De Volta para o Futuro e MacGyver). E o roteiro ainda se permite homenagear alguns clichês clássicos do gênero, como a Bloody Mary e a figura da babysitter bonita em perigo. E ainda sobre a emulação das restrições técnicas da época, ela dá origem à ideia mais bem sacada do filme: a câmera acoplada ao ventilador, cujo campo de visão percorre alternadamente sala e cozinha. Ao brincar a todo momento com o que está dentro e fora de campo e agoniando o espectador ao tornar imprevisível de onde pode vir o próximo susto, os diretores constroem algumas das melhores cenas da franquia, como a do lençol e a dos utensílios desaparecidos.
Por tudo isso, mesmo que sem o frescor da novidade, Atividade Paranormal 3 se mostra mais competente que seus antecessores, provando que uma sequência pode sim superar o original. Ainda que focado no seu público fiel, consegue chamar a atenção dos espectadores casuais pelo apelo como filme de gênero. E devido ao excelente custo-benefício da franquia, é de se esperar mais uma continuação para o futuro (ano que vem, talvez?). E as mesmas questões que abriram esse texto irão assombrar (já que se trata de um terror) mais uma vez as mentes inquietas em busca da fórmula do sucesso.