Amor sem Escalas

Há algo de politicamente incorreto e curioso no início de Amor sem Escalas. No momento em que os EUA passam por uma grave crise econômica, com demissões às centenas de milhares, montadoras e bancos demitindo a rodo, o mocinho a quem devemos acompanhar e admirar no longa tem como missão…. demitir pessoas!

A empresa para qual George Clooney trabalha atravessa seu melhor momento, o chefe dá pulos de alegria. Aí uma das possíveis sínteses do capitalismo ou do próprio ser humano: diante da desgraça alheia, sempre tem alguém comemorando!

O galã voa de um lado a outro dos EUA, pouco para em casa. Seu mais importante desejo, conquistar 10 milhões de milhas e ganhar mimos de diversas companhias, para todo o sempre.

A questão central de Amor sem Escalas (Up in the Air, EUA, 2009), de Jason Reitman, é ter ou não ter família. Ficar solto no mundo ou criar laços em chão firme. Cloney, em princípio, não constituiu família e nem quer. Ele está muito bem resolvido!

Entrará nessa história a bela Vera Farmiga e a jovem Malaine Linskey, esta uma espécie de caricatura de estudante brilhante recém-saída da Universidade. Se com a primeira Clooney se envolve afetivamente de uma forma mais intensa com a qual está acostumado, a segunda o deixará inseguro quanto à continuidade de seu trabalho.

Nesse ponto, já percebemos que se a premissa do filme nos levava a crer num filme incômodo, o restante mostrará o quanto Amor sem Escalas é superficial.

O longa é todo construído no sentido de mostrar que a família, via de regra, é um negócio chato, um porre, mas serve para dar guarida em momentos de crise. Por isso que ela é tão necessária. Não se trata de unir para potencializar os indivíduos em novas conquistas, desbravar o mundo, mas para que “um possa segurar a onda do outro” nos momentos ruins.

Assim, Clooney também se questionará no momento da fraqueza, da insegurança, em que ele se sente com seu futuro ameaçado. Amor sem Escalas é uma espécie de exercício da impotência.

O melhor de Amor sem Escalas é lembrar de O Viajante (Homo Faber), do alemão Volker Schlondorff. No longa de 91, Sam Shepard também viaja de um lado para o outro, está solto, sem amarras. Pragmático, seu personagem parece capaz de tudo, até mesmo de vencer a morte. Mas, o destino e os deuses farão questão de mostrar o quanto humanos e impotentes podemos ser. Um filmaço, com duas grandes atrizes, Julie Delpy e Barbara Sukowa.