Por João Paulo Barreto
Quando um filme de terror é lançado em 3D, desconfie. Se esse filme for uma refilmagem de uma cultuada produção dos anos 1980, desconfie ainda mais. O resultado pode não ser muito recomendável. No caso de A Hora do Espanto, a versão do século XXI, essa desconfiança se refere bem mais ao 3D caça níqueis do que ao resultado final do filme. O remake soma pontos com a presença de Colin Farrell como Jerry Dandrige (papel de Chris Sarandon no original), o vampiro sedutor, já que Farrell consegue convencer com sua verve maligna e cínica de modo a deixar qualquer Edward Cullen constrangido pela falta de atitude com o sexo oposto.
A trama é a mesma do filme dirigido por Tom Holland em 1985, com diferenças, claro, nas adaptações para o século XXI, que o diretor Craig Gillespie (do ótimo Larry e a Garota Ideal), soube equilibrar de modo positivo. Desde o começo que remete ao original, com a televisão em cena servindo para apresentar um futuro personagem, o novo filme busca trazer para a geração atual um impacto maior do que aquele obtido na década de oitenta, já que, logo nos primeiros minutos, a proposta sanguinolenta já é exposta.
Enquanto na produção de vinte e seis anos atrás o personagem de Charley Brewster era um rapaz aficionado por filmes e histórias de terror (algo que justificava sua obsessão por Dandrige), neste, ele ficou reduzido a um inseguro e influenciável adolescente, que parece ser fissurado em skates como mostra a parede do seu quarto e tenta se manter longe de seu amigo de infância por achar vergonhoso seu passado nerd junto àquele.
Nas mudanças para a nova versão, coube a esse amigo, Ed, a desconfiança original pelo comportamento do vizinho. Vivido por Christopher Mintz-Plasse, de Superbad- É hoje (um ator que parece saber personificar o estereótipo nerd desde sua estréia na comédia dos jovens que tentam perder a virgindade a qualquer custo), Ed se recente por não ter mais a companhia do amigo de infância que foi cativado pela popularidade de se namorar uma beldade e ter amigos amantes de cerveja.
Mas como culpar Charley pela opção? Ed anda com uma valise repleta de equipamentos para matar vampiros. São cruzes, água benta, estacas de madeira, alho, tudo o que qualquer garota desejaria ver com um rapaz, claro. No entanto, acaba sendo através da preocupação de Ed pelo fato de seus colegas de escola estarem desaparecendo um a um que Charley cede e resolve checar o que ocorre na porta ao lado.
A partir daí, o filme apresenta um tributo às regras de combate aos vampiros uma vez que, como dito antes, essa nova versão é voltada para a geração atual que, coitados, têm em Crepúsculo todas as referências para o gênero “filme de vampiro”. Então, para os que têm quase ou pouco mais de 30, não é com surpresa que se deve observar os personagens explicando que vampiros temem a luz do sol, as cruzes, alho e estacas de madeira. Afinal, os vampiros do século XXI são aqueles que brilham no sol feito fadas e têm medo de se aproximar de uma garota com uma bela jugular.
As sequências de ação são um detalhe à parte. Em determinada cena de perseguição, vemos Charley, sua namorada e sua mãe (Toni Collete, que deve ter feito o filme pela amizade com o diretor, com que já trabalha na TV) fugindo de Dandrige. A câmera passeia por dentro do veículo causando um efeito muito semelhante ao de Filhos da Esperança, em uma cena que, diferente da vista na produção estrelada por Clive Owen, foi totalmente (mal) construída em computador.
O 3D é preocupante. Servindo, como já foi dito, de propaganda enganosa contra o espectador, ele só serviu para salientar as faíscas vistas nos corpos em combustão que o filme apresenta aqui e ali. A banalização de um efeito digital do modo como A Hora do Espanto faz é um insulto ao público. Apenas corroborou a desconfiança que tive e compartilhei no começo desse texto. O mais lamentável é que esse parece ser um caminho sem volta que, assim como as versões dubladas, parece invadir as projeções em âmbito nacional.
Mas, ratifico que é bem vinda uma história de vampiro voltada para o público adolescente que ainda mantém sua proposta e espírito fiéis às criaturas das trevas de verdade.