Por Luis Fernando Pereira

Há aquela velha máxima de que teoria se diferencia por demais da prática e o cinema atual se apresenta como um espaço fértil para uma reflexão acerca. São projetos e mais projetos que são muito bem elaborados enquanto papel – seja no roteiro, seja nas palavras de seus envolvidos – mas que ao entrar em cartaz se mostra como mais um desperdício de talentos, quando há, obviamente.

A Hora da Escuridão, mais novo trabalho do diretor Chris Gorak (de Toque de Recolher) se encaixa muito bem nesta afirmação, já que em tese o projeto conta uma história com elementos inovadores e possui na construção dos seus personagens um de seus pontos fortes, mas que na prática o filme não apresenta nada que mereça muito crédito e a construção dos personagens (parte fundamental de um projeto) é desenvolvida de forma tão rasa e clicherizada que se importar com eles é tarefa das mais difíceis.

Na trama, os americanos Sean (Emile Hirsch) e Ben (Max Minghella) acabam de chegar a Moscou para uma reunião de negócios e lá, poucas horas depois, conhecem as turistas Natalie (Olivia Thirby) e Anne (Rachael Taylor) num clube descolado da cidade. O que seria motivo para comemorações dionisíacas transforma-se bem rapidamente numa desesperada corrida pela sobrevivência, já que Moscou acabava de ser invadida por alienígenas, que deixam todo o lugar às escuras. Para completar o núcleo central da história, o jovem empresário sueco Skylar (Joel Kinnaman), que horas antes havia dado um golpe nos amigos americanos, junta-se aos quatro para a partir de então buscar de todos os modos sobreviverem aos ataques.

O filme, gravado com tecnologia 3D, tem na sua ambientação algo que chega a ser bem interessante, não por conta da originalidade – já que a cidade de Moscou é uma das mais cogitadas para filmes fora de Hollywood – mas sim pela beleza plástica que a cidade pode apresentar através de suas locações. Chris Gorak se aproveita com competência desta situação e consegue captar bons planos-sequências da cidade, principalmente quando se atém a mostrar as grandes praças moscovitas. Há um trabalho bem conduzido de fotografia, que consegue captar toda uma atmosfera de apocalipse nos locais. São enormes praças vazias, com carros espalhados em simetria perfeita, que oferecem ao espectador toda uma contextualização da história.

A tecnologia 3D proporciona uma visão bem limpa e abrangente das locações – é verdade – mas nada que o modo mais tradicional de gravação não pudesse oferecer também, bastava tão somente boa vontade dos envolvidos no projeto. Ou seja, é basicamente uma perda de tempo e de dinheiro assistir ao filme desta forma, já que efeitos especiais em terceira dimensão são poucos, para não dizer raros em A Hora da Escuridão.

As atuações são um desastre à parte. Emile Hirsch, um dos jovens atores mais talentosos do cinema americano, dá vida para um personagem típico de seu país (ao menos nas histórias de cinema), que é um abobalhado que busca na sua estadia muita diversão e mulheres. Não há nada além disso. Seu amigo serve então como contraponto, numa escolha das mais presumíveis e simplistas. No núcleo feminino há quase a mesma estrutura de personalidades, formando assim um grupo de personagens centrais dos mais insossos, que só ganha alguma força por conta da atuação de Joel Kinnaman, elemento estranho no grupo, que traz assim algum tempero às situações desenvolvidas na história.

O roteiro, que traz em sua premissa elementos até interessantes, tais como alienígenas que são inicialmente invisíveis e que se utilizam da energia elétrica, ou mesmo o choque cultural envolvendo americanos na cidade de Moscou, se perde num balaio recheado de fracos diálogos e situações clicherizadas. São sempre aquelas mesmas piadas de efeito nos momentos mais cruciais da história. Fazer graça quando se está à beira da morte realmente é um privilégio que somente os personagens saídos destes filmes possuem.

Até mesmo o desfecho oferecido, que subverte o imaginário hollywoodiano de colocar sempre os americanos como salvadores do mundo, não salva o projeto como um todo, e assim A Hora da Escuridão entra para o grupo dos filmes que em teoria se mostra como uma produção criativa e interessante, mas que na prática oferece tão somente um projeto raso na sua construção e sem maiores qualificativos extras.