A DIMAS e os 100 anos de produção na Bahia

Em 2010, comemora-se 100 anos do primeiro filme produzido na Bahia. Trata-se de Regatas na Bahia, dirigido por Diomedes Gramacho e José Dias da Costa, proprietários da Fotografia Lindemann.

Gramacho e Dias da Costa foram os pioneiros da produção baiana. Eles fotografavam e montavam seus filmes, registros dos mais variados acontecimentos da terra, as ditas “atualidades”, e mais tarde os famosos “cinejornais”, que eram encomendados pelos exibidores.

No mesmo ano, 1910, a dupla realizou Segunda-Feira do Bonfim, registro sobre a nossa mais tradicional festa popular. Em mais de uma década de trabalho, Gramacho e Dias da Costa produziram uma centena de filmes desse gênero.

Com a morte de José Dias da Costa, ainda antes da primeira guerra mundial, Diomedes Gramacho passou a trabalhar sozinho. Todos os seus arquivos foram perdidos em conseqüência de dívidas contraídas ao longo da década. Por outro lado, com medo da possibilidade de incêndio, algo corriqueiro dado o material de fácil combustão com o qual as películas eram feitas, Gramacho jogou ao mar, na Baía de Todos os Santos, todos os filmes produzidos pela Fotografia Lindemann. Isso se deu em 1920.

Ou seja, não restou um único filme dos nossos pioneiros. Jamais poderemos ver Regatas na Bahia, Segunda-Feira do Bonfim e demais produções da Fotografia Lindemann.

Mas, se algum dos filmes da de Diomedes Gramacho e José Dias da Costa tivesse sobrevivido, por certo estaria em maus lençóis, pois a Bahia não possui nenhuma condição de zelar pela nossa memória cinematográfica.

A DIMAS, órgão dedicado ao cinema da Bahia e ligado à Fundação Cultural do Estado, é depositária de uma centena de películas antigas. Dos pioneiros Alexandre Robatto e Leão Rozemberg aos curtas e longas mais recentes.

Vale dizer que os filmes não estão guardados na DIMAS, mas se estragando na DIMAS.

Fato é que a DIMAS, desde a eleição de Jacques Wagner, anda em compasso de espera. Amarrada pela burocracia, no aguardo de uma reforma que ninguém conhece direito e nem sabe se de fato virá, o órgão deu poucos passos no sentido de acompanhar um novo ciclo que se revela dos mais positivos para o nosso cinema.

De relevante, a manutenção e realização do Festival 5 Minutos, o que é muito pouco.

É de responsabilidade da DIMAS pensar a Cinemateca da Bahia, que deve estar atrelada à Sala Walter da Silveira, que anda caindo aos pedaços há anos. Daqui a pouco, vamos comemorar uma década inteira de abandono da Sala Walter da Silveira, que precisa ser reformada, com urgência.

Se estamos produzindo de forma razoável nos últimos anos, retomando uma atividade que estava adormecida, a preocupação com a guarda e restauro da nossa memória cinematográfica é praticamente nula.

Toda a nossa memória audiovisual está se perdendo! Isso não é importante?

Não adianta, apenas, produzir novos filmes. Temos que garantir que os filmes antigos sejam conservados, guardados de maneira a preservar nosso patrimônio histórico e cultural.

2010 tem de ser o ano da DIMAS. Que Sofia Federico, a jovem e competente cineasta que está a frente desse órgão há três anos, tome a frente desse desafio. Que ela assuma essa tarefa e não veja mais a DIMAS simplesmente figurar nos organogramas do estado.

Há um trabalho importante a ser realizado, pela DIMAS.

Já não se pode mais aguardar pela tal reforma que nos dará um Instituto de Cinema ou seja lá o que for.

À DIMAS o que é da DIMAS.

* A Escolha de Sofia (Sophie’s Choice, EUA, 1982), de Alan J. Pakula, com Meryl Streep!

Por Cláudio Marques