Pixote, a Lei do Mais Fraco
Brasil, 1981, cor, 35mm, 122 min
Direção: Hector Babenco
Roteiro: Hector Babenco e Jorge Duran
Com Fernando Ramos da Silva, Marília Pêra, Jardel Filho, Rubem de Falco, Elke Maravilha, Tony Tornado e Beatriz Segall
Sinopse
O filme acompanha Pixote, um jovem de apenas 11 anos de idade, que vive entre reformatórios e a rua. São nesses espaços que, ao lado de um grupo de amigos, ele busca meios de sobrevivência.
Pixote, um rosto inesquecível
Em 1981, morre Glauber Rocha. Naquela ocasião, o então governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães, como forma de homenagear o mais ilustre cineasta da terra, muda o nome do antigo Cine Guarani para Cine Glauber Rocha. No mesmo ano, Hector Babenco lança “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, um sucesso de público e de crítica. O filme é exibido na reinauguração do cinema, agora com novo nome. É a primeira exibição de “Pixote,…” na Bahia, com casa cheia, no local onde funciona, nos dias de hoje, o Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha. No dia 02 de junho de 2015, “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, encerra a primeira etapa do Cineclube Glauber Rocha, que se propôs a realizar vinte sessões com clássicos do cinema (nacional e internacional) seguidas de debate mediado por jornalista, pesquisador e/ou crítico de cinema com o público.
Em “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, o diretor Hector Babenco, argentino naturalizado brasileiro, convida-nos a olhar de perto a vida de um grupo de jovens infratores. Através dessa aproximação, busca diminuir a distância criada pelos dados frios e factuais que inundam os noticiários diários ao falar desses meninos. O cineasta quer eliminar a etiqueta social “menor carente”, muito usada nos anos 80, que esconde um ser humano com nome, história e desejos.
Entre os jovens, destaca-se o personagem título do filme, o mais novo entre todos, o menino Pixote, de apenas 11 anos de idade. Hector Babenco nos apresenta um rosto inesquecível, o rosto de Fernando Ramos da Silva, que vem de uma realidade social próxima a do personagem que ele vive nas telas. Os olhos caídos e o rosto angelical de Fernando impregnam o filme de doçura. A conexão emocional com o personagem é imediata. É com ele que seguimos ao longo de duas horas de projeção. Durante as cenas iniciais no reformatório, sabemos apenas que Pixote fugiu do convívio com a sua avó, nada mais. Portanto, ele é um jovem que buscou outro rumo, uma saída para uma vida que não lhe servia. Mesmo que sua escolha o tenha feito chegar ali, num reformatório, um lugar que deveria servir como um centro educacional, mas que revela-se tão ou mais inseguro e ameaçador que o mundo lá fora. Uma segunda fuga é necessária, dessa vez, ao lado dos amigos Dito, Lilica e Chico. O grupo de jovens escapa de uma instituição marcada por situações de abuso e violência perpetradas pelos oficiais. Os jovens, com erros e acertos, fogem pois querem assumir a condução de suas vidas, ser autor de suas próprias narrativas.
Daí segue uma vida nas ruas. Entre furtos e momentos de cumplicidade, esses jovens encontram, na companhia um do outro força, acolhimento, mas também momentos trágicos. O que se completa quando conhecem Sueli, prostituta interpretada por Marília Pêra. Uma família se esboça, mesmo que fora de qualquer padrão. É desse encontro que acontece uma das mais célebres cenas do cinema brasileiro. Quando a puta e o menino de rua encenam a clássica representação de Pietá. Um busca no outro uma salvação, um afeto que lhes foi negado. No caso de Pixote, o amor e a proteção materna, no caso de Sueli, a maternidade. Mas esse momento de “fraqueza” dos personagens não dura muito. Logo, eles rejeitam qualquer sentimentalismo para seguir com suas vidas errantes.
Vida e ficção tragicamente entrelaçadas
O que acontece com o Fernando Ramos da Silva, o Pixote, após o lançamento do filme é muito triste. O reconhecimento do seu trabalho no filme gera algumas oportunidades para que ele siga como ator. Fernando chega a fazer pontas em alguns filmes e novelas, mas o seu despreparo e baixa escolaridade, uma vez que tinha dificuldades com a leitura e memorização dos textos, não permitem que ele se firme na profissão. A pobreza e a criminalidade voltam a fazer parte de sua vida, até que, algum tempo depois, em 1987, ele é morto pela polícia, com apenas 20 anos de idade.
Por Marília Hughes