Entra em cartaz hoje o blockbuster Avatar. O longa de James Cameron, o mesmo diretor de Titanic, já se tornou famoso por ser o filme mais caro do cinema mundial. Aliás, divulgar isso exaustivamente faz parte da estratégia de promoção do longa.

A história do filme nos conduz à mais incrível das ficções.

Num futuro qualquer, empresários, militares e cientistas viajam por mais de cinco anos até chegar a um mundo repleto de paisagens deslumbrantes e minérios preciosos.

Os cientistas querem compreender aquele mundo. Os empresários querem arrancar os minérios, custe o que custar. Aos militares, resta a destruição.

Avatar mistura animação e atores reais. Possui um visual elaborado, cheio de cores e vida. A computação gráfica confere artificialismo em todo o filme, mas nada que não impeça que entremos de corpo e alma na fábula proposta.

É um fabuloso entretenimento!

Certo que Avatar é um filme de grande estúdio e que se utiliza de todas as armas do grande cinema americano. Utiliza-se, também, das convenções de gênero, aliada a uma trama previsível. Entende-se fácil o desfecho da história, embora muitas vezes não seja possível imaginar como isso se dará, pois as tensões são estendidas ao limite!

Sabe-se que o bem vencerá o mal, mas os bonzinhos ficam de tal forma em desvantagem que torna-se um exercício danado descobrir como isso acontecerá.

Avatar é um filme pueril, ingênuo e essencialmente maniqueísta. O que é do “bem” e do “mal” está posto, desde o início. Os nativos representam o bem, os empresários e militares invasores, o mal.

Jake (Sam Worthington), o protagonista, é o único que escapa da definição fácil. Ele carrega no corpo o pior das guerras, perdeu o movimento das pernas. Graças a uma incrível conexão, transforma-se num nativo e aos poucos aprende a ser um “bom selvagem”.

Esses nativos são altos e coloridos. Possuem ligação direta com a natureza, a compreendem e respeitam. São superiores aos humanos que são feios, sujos, barbados, violentos e irresponsáveis.

Os nativos são retratados de forma generosa, mas não há tridimensionalidade em sua representação. Eles são apenas bons! E se não existe complexidade, pode-se dizer que não existe respeito por eles.

O mesmo pode-se dizer dos militares. Sobretudo o chefe das operações, um divertido pitibul sem coleira, à solta.

Avatar é um filme de lugares comuns e do extremo do politicamente correto.

Mas, definitivamente há algo que nos toca profundamente nesse filme previsível e maniqueísta e não diz respeito aos efeitos visuais mirabolantes.

Trata-se do desejo de justiça que a humanidade carrega por muitos séculos com relação às grandes invasões promovidas por espanhóis, portugueses, ingleses, soviéticos e norte-americanos.

Os nativos representam os índios norte-americanos, as civilizações pré-colombianas, os judeus, os palestinos, os vietnamistas, os afegães e iraquianos.

São os combatentes de Copenhague, na Dinamarca.

Inegável que esse discurso é perigoso e carrega alta dose de demagogia.

Mas, no mesmo ano em que assistimos a Hitler ser morto dentro de uma sala de cinema (Bastardos Inglórios, de Tarantino), por quase três horas de projeção, assistimos à vingança dos povos massacrados, exterminados em séculos de dominação.

A história poderia ter sido diferente?

 

Por Cláudio Marques
Visto no Espaço Unibanco de Cinema – Glauber Rocha