Memoria e a nova safra do cinema nacional

Por Cláudio Marques

Em nosso estado, não se dá a devida importância à memória, todos sabem. Por outro lado, também não é novidade que não é possível um futuro digno sem conhecer minimamente nosso passado. Risca-se, a todo tempo, ver o requentado surgir com o frescor da novidade.

Tem muita gente que questiona: “Para quê preservar?”. A pergunta correta seria “Para quê produzir se logo ninguém mais vai tomar conhecimento?” Filmes que foram realizados há cinco anos parecem não possuir mais serventia. E os filmes de cinqüenta anos atrás?

Em 2010, comemoramos 100 anos de Cinema na Bahia sem que haja qualquer política do governo e mesmo um desejo manifesto da sociedade para que o nosso patrimônio fílmico seja preservado e difundido de forma adequada. Apenas algumas iniciativas tímidas e pontuais, de um e de outro lado.

Para que as lições de Diomedes Gramacho, José Dias da Costa, Alexandre Robatto, Glauber Rocha, Roberto Pires e todos os demais cineastas que realizaram nessa terra sejam apreendidas, é necessário fundar a Cinemateca da Bahia, aliada à Sala Walter da Silveira devidamente revitalizada.

Com o intuito de instaurar a discussão, ao menos, o Panorama exibe cinco grandes filmes brasileiros devidamente restaurados. Entre eles, sessão histórica de Redenção, de Roberto Pires, primeiro longa ficcional realizado na Bahia.

Homenageamos Anselmo Duarte, morto em 2009, com a exibição de O Pagador de Promessas, em plena Igreja do Paço, local onde boa parte da película foi filmada.

O Panorama comemora, também, a presença de Orlando Senna, em seus 70 anos de vida, figura essencial para o cinema brasileiro dos últimos 50 anos. Prestamos homenagem aos mestres do cinema Akira Kurosawa, que completaria 100 anos, e ao Francês Eric Rohmer, cineasta francês que morreu no ano passado.

Serão exibidos três filmes do espanhol José Luis Guerín. Tempo e memória representam a matéria prima do cineasta, numa obra que já se torna referência em todo o mundo.

Por fim, comemoramos 15 anos do Coisa de Cinema com a exibição de Terra Estrangeira. À época do lançamento do longa, a entrevista com Walter Salles foi um marco em nossa trajetória, primeiro momento de repercussão nacional do nosso trabalho.

São 15 anos! Um breve período, recheado de plena dedicação ao cinema e muitas realizações.

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Há algo de muito animador nessa sexta edição do Panorama: os filmes brasileiros.

Dos curtas, temos uma vitalidade que impressiona. Dezesseis curtas foram selecionados, mas, no mínimo, uma tal quantidade de bons filmes ficou de fora, por questão de recorte, sobretudo.

Nota-se que os cineasta arriscam-se com inteligência e criatividade. Abandona-se o lugar comum em favor de formatos diversos e muitas vezes inusitados. Mesmo nos mais tradicionais, percebe-se um frescor e disponibilidade ao cinema que antes pouco se via.

Quanto aos longas, tanto em competição quanto no Panorama Brasil, temos uma leva de encher os olhos. Ficções e documentários que transitam entre a precariedade e a grande estrutura de produção. Filmes diferentes na origem e no modo do registro, mas que possuem em comum o claro traço de seus autores. Acreditamos que tais filmes dão conta do que há de melhor sendo realizado no Brasil.

 

Um grande festival a todos!