A Música Segundo Tom Jobim
Por Rafael Saraiva
Documentários sobre personalidades muitas vezes correm o risco de caminhar sobre uma linha tênue que separa uma representação coerente dos fatos de uma simples “rasgação de seda”, propaganda. No caso específico de A Música Segundo Tom Jobim, que contou com alguns dos seus parentes na equipe técnica (Dora Jobim, sua neta, é uma das diretoras do filme; Paulo Jobim, seu filho, é responsável pela direção musical), esse risco se tornou ainda maior. Mas é aí que um simples ajuste de foco no projeto fez toda a diferença: os mais desavisados poderiam pensar que se trata de um longa sobre o homem Tom Jobim. Mas na verdade é mais do que isso: é sobre sua música e seu legado deixado como intérprete e compositor. E por esse ângulo é inquestionável a importância do maestro.
E como tal, o documentário se assume completamente musical ao não trazer em nenhum momento narração ou entrevistas, sejam de época ou contemporâneas (na forma dos manjados depoimentos sentados olhando para a câmera). E só por fugir desse formato tão quadrado, A Música Segundo Tom Jobim já merece atenção. O documentário é composto inteiramente de apresentações do compositor ao longo de sua carreira e homenagens que outros artistas prestaram à sua música. Tudo isso montado de um modo bem inteligente, sem se ater a uma ordem cronológica dos eventos, mas agrupando-os de forma harmoniosa a contar essa história musical, que ainda utiliza algumas imagens de arquivo do Tom Jobim (registros familiares e de turnês, por exemplo) como “cola” entre uma apresentação e outra. O resultado é um filme muito agradável de se assistir, e que não se torna enfadonho em momento nenhum.
E sobre essas performances, elas são um prato cheio não só para os fãs do Jobim, mas da música nacional e internacional em geral devido ao alcance que suas composições tiveram. Artistas consagrados como Gal Costa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Elis Regina, Maysa, Carlinhos Brown, Adriana Calcanhotto, Fernanda Takai, Vinicius de Moraes, Diana Krall, Sammy Davis Jr., Ella Fitzgerald, Judy Garland e, é claro, Frank Sinatra, são alguns dos nomes que aparecem, alguns em duetos com Tom, outros em tributos e covers. É tanta gente que, em um primeiro momento, senti falta de legendas indicando o nome de todos eles durante o filme, mas os créditos finais cumprem essa função de forma tão didática que não dá para reclamar.
Primando pela feliz abordagem escolhida, pela montagem eficiente e pela qualidade natural do material-fonte, A Música Segundo Tom Jobim ainda tem a felicidade de terminar com uma citação precisa do maestro, e que resume a obra (e o homenageado) com uma elegância ímpar: “a linguagem musical basta”. Melhor, impossível. Para sair da sala de cinema com um sorriso no rosto.