Por Rafael Saraiva
Dados os nomes fortes envolvidos no projeto (Jim Sheridan na direção; Daniel Craig, Rachel Weisz e Naomi Watts no elenco), A Casa dos Sonhos é um equívoco de grandes proporções. Um filme complicado até mesmo de se classificar, dada a ineficiência nas suas diversas abordagens: quando tenta ser terror, não assusta. Ao investir nos dramas de seus personagens, é rasteiro. E quando aposta nas reviravoltas de um thriller, troca os pés pelas mãos, em lambanças fenomenais. Por isso, a questão mais intrigante ao final é: como conseguiram errar tanto?
O fato é que A Casa dos Sonhos parece ter sido todo idealizado e construído em torno da sua grande revelação presente no início do terceiro ato – o que por si só não seria um problema se o filme fosse bem arquitetado e rico em detalhes ao ponto de instigar o espectador a fazer posteriores revisões, mas esse não é o caso. O roteiro força todas as barras possíveis para parecer coerente, mas tudo que consegue é ser truncado ao tentar abarcar momentos de sustos sobrenaturais (ruins) como se fosse um filme de gênero. E para piorar, algum gênio do marketing do estúdio resolveu revelar esse grande segredo justamente no trailer do filme! Por todos os problemas de produção que vieram a público envolvendo a película – com sessões-teste de repercussão negativa, filmagens adicionais sendo feitas e o diretor Jim Sheridan tentando retirar seus nomes dos créditos – devem ter achado que entregar o ouro previamente poderia salvá-la de ser, ao menos, um desastre de bilheteria. Assim sendo, azar de grande parte do público que se deparou (muitas vezes por acaso) com o material de divulgação, pois se A Casa dos Sonhos já seria frágil visto às cegas (sem trocadilhos), com o final entregue de bandeja ele é completamente desanimador, com todas as tentativas de encobrir o segredo gritando na tela de tão artificiais (a própria existência da personagem vivida pela Naomi Watts é a prova viva disso, pelo modo como convenientemente sonega informações óbvias em todos os seus diálogos).
E no meio de tanta coisa dando errado, chega a dar pena do Daniel Craig. Embora esteja sendo – injustamente – estigmatizado pelo seu estilo “brucutu” (por causa de blockbusters como os dois 007 e, mais recentemente, Cowboys & Aliens), sua atuação aqui vai por um caminho bem diferente e é uma das poucas coisas que se salvam no filme. Encontrando um difícil equilíbrio entre sanidade e loucura, ele é responsável por tornar seu personagem bastante fragilizado, instável, e acima de tudo crível (características ressaltadas pelas suas mudanças na aparência – cabelos, roupas – outro ponto positivo). Infelizmente, suas companheiras de cena não tem a mesma sorte: Rachel Weisz não entrega nada mais que uma constante expressão de insegurança, com olhos levemente sofridos (já que o roteiro não lhe oferece nada mais que isso) e Naomi Watts é desperdiçada em uma personagem completamente desnecessária, envolvida em uma subtrama risível. O elenco ainda conta com o manjado Elias Koteas, que há algum tempo se especializou em papéis genéricos, que despendem pouco esforço e devem servir para pagar o aluguel.
E como se não fosse suficiente uma atrapalhada reviravolta, A Casa dos Sonhos coloca tudo ainda mais a perder em seu péssimo clímax, onde não só introduz mais uma (!) surpresa de modo completamente gratuito (com direito a flashbacks enquanto o vilão explica seu plano de modo megalomaníaco, um dos recursos mais preguiçosos do cinema), como ainda consegue contradizer toda a natureza dos fenômenos apresentados até aquele momento em uma dispensável cena envolvendo a personagem da Rachel Weisz. A pá de cal que faltava em um projeto que no papel poderia até parecer promissor, mas que na prática foi um fracasso monumental.